Está a dias de completar 73 anos e, em maio de 1992, foi protagonista de um crime que chocou o país. Corria o dia 1 quando Frederico Marcos da Cunha, ou Padre Frederico, como ficou conhecido, vigário da paróquia de Água de Pena, no Machico, Madeira, deu boleia a um jovem escuteiro, Luís Miguel, com 15 anos. Dias mais tarde o corpo do jovem é encontrado no fundo de uma ravina, no Caniçal.
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A autópsia dá conta de que havia sido assassinado e rapidamente as autoridades chegam ao padre Frederico, que fora visto a dar boleia a Luís Miguel no seu VW Carocha preto. Um automóvel que dava nas vistas por estar decorado com caveiras. Adereços que se estendiam à indumentária do padre.
Foi detido e colocado em prisão preventiva no dias 25 de maio do mesmo ano, por suspeitas de homicídio e de homossexualidade de forma tentada com o jovem.
Na cobertura do julgamento, que durou cerca de um mês, o JN relatou que o Tribunal "considerou não haver dúvidas que foi o padre Frederico que, no dia 1 de Maio de 1992, matou voluntariamente Luís Miguel depois de tentar com este manter contactos homossexuais".
E destacou as declarações do réu, à saída do julgamento, que "disse saber desde o primeiro dia que isto iria acontecer e estabeleceu um paralelo entre a sua pessoa e Jesus Cristo, que também foi condenado, apesar de estar inocente".
Frederico Cunha referiu, ainda, que se "tratou de um caso montado pelos inimigos da Igreja, fariseus que existem até na própria Igreja".
Mas, para o Tribunal de Santa Cruz não restaram dúvidas e a Justiça condenou o Padre Frederico a 12 anos de prisão por homicídio e a 18 meses por homossexualidade.
O processo teve outro arguido. Miguel Noite, um jovem de 19 anos, afilhado do padre Frederico, foi condenado a 15 meses de prisão, pena que foi suspensa, por favorecimento pessoal, por ter fornecido ao padre um alibi falso.
Uma decisão justificada pelo juiz ao considerar que "a relação que unia os dois arguidos se assemelha a cônjuges" considerando que o Código Penal "consagra a não punibilidade do favorecimento pessoal de um cônjuge em benefício do outro".
Mas a história não terminaria aqui. No dia 7 de abril de 1998 o padre Frederico não regressou ao Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus após uma saída precária e fugiu para o Brasil, onde ainda se encontra.
Por pagar ficaram os cinco mil contos (25 mil euros) de indemnização à família do jovem assassinado.