Há pedófilos a intrometer-se em jogos online para cativar as futuras vítimas, aliciando-as a manter depois o contacto noutras plataformas.
Corpo do artigo
A garantia é da Polícia Judiciária (PJ), que, na quinta-feira, deteve, em todo o país, 15 homens durante uma megaoperação de combate à pornografia infantil. Há indícios de que alguns dos suspeitos possam ser os autores dos conteúdos que partilharam.
De acordo com o diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da PJ, Carlos Cabreiro, foram descobertos milhares de ficheiros que os suspeitos terão distribuído entre si, usando, sobretudo, o sistema "peer-to-peer": uma rede de computadores interligados, sem intermediário, que podem receber e remeter fotografias ou filmes. Os suspeitos terão ainda partilhado as imagens na darknet, em plataformas de jogos online e em plataformas encriptadas utilizadas por pedófilos.
32 pessoas detidas em 2020 por pornografia de menores, menos seis do que em 2019. Outras 113 foram apanhadas por abuso sexual de crianças. Em 2019, tinham sido detidas 117.
"A operação em concreto teve uma incidência maior sobre a plataforma "peer-to-peer". Em todo o caso, existem outras plataformas que são aproveitadas como ponto de aliciamento por este tipo de indivíduos para chegar aos menores, seja através das redes sociais, das plataformas de jogo online, ou até em fóruns ou em potencialidades que a darkweb [inacessível aos internautas comuns] oferece", salientou aos jornalistas, em Lisboa, Carlos Cabreiro.
O diretor da UNC3T ressalvou, no entanto, que só a análise aos equipamentos apreendidos permitirá perceber se tal foi feito pelos suspeitos detidos, durante a manhã de ontem, em Braga, Aveiro, Guarda, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Algarve e Madeira.
Bebés entre as vítimas
Segundo Carlos Cabreiro, os 15 indivíduos não se conhecem fisicamente, comunicando apenas online, mas estarão unidos pelo "sentimento de pertença a um grupo". O mais novo tem 23 anos; o mais velho, 60; e a maioria está na casa dos 50 anos. Alguns serão apenas colecionadores das imagens, outros terão procedido também à sua distribuição e outros poderão ter igualmente produzido os conteúdos, que incluem cenas de sexo explícitas com menores.
Entre as vítimas, que terão ainda de ser identificadas, há desde bebés a adolescentes de 14 anos. "Não serão, com certeza, só portuguesas", concluiu Carlos Cabreiro.
Os detidos vão ser agora apresentados no tribunal da sua área de residência, para aplicação de eventuais medidas de coação.
Buscas realizadas após três meses de investigação
A operação "3P" aconteceu ao fim de três meses de investigação e incluiu 15 buscas domiciliárias. Nas diligências, participaram cerca de cem elementos da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime, de todas as diretorias e departamentos de investigação criminal, e da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática da PJ. Foram apreendidos dezenas de computadores, discos rígidos, pens, telemóveis e cartões de memória. Os inquéritos são dirigidos pelo Ministério Público de Lisboa e dos locais onde, ontem, decorreram as buscas.