Processos têm 43 arguidos. Sindicato diz que jogadores são aliciados a vir para Portugal e caem na miséria.
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O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) investiga 37 processos de tráfico de pessoas, que envolvem 149 jogadores de futebol trazidos ilegalmente da Argentina, do Brasil, da Colômbia e da Nigéria por falsos agentes desportivos.
Já foram constituídos 43 arguidos naqueles processos. A maioria são dirigentes de clubes de futebol, que estão indiciados de crimes de tráfico de pessoas, falsificação de documentos, auxílio à imigração ilegal e burla.
O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, que denunciou aqueles casos, descreve o "modus operandi": "O jogador é seduzido com uma proposta de trabalho e, quando chega, vê-se dominado, privado do salário prometido, e a viver em condições indignas, apesar de treinar e jogar ao fim de semana".
Ao JN, Evangelista salienta que, "em muitos casos, é-lhe retido [ao futebolista] o passaporte e limitado o contacto com familiares, para dar a aparência de que está tudo bem".
Segundo o dirigente sindical, perante situações daquelas e quando o jogador não tem condições de permanência em Portugal, nem condições para se tornar profissional, o SJPF contacta a embaixada respetiva "para tentar o seu repatriamento". Na falta de resposta, o Sindicato "garante a estadia e a alimentação e já suportou muitos voos de regresso".
A seguir, o Departamento Jurídico do SJPF instaura queixas-crime e disciplinares, para os jogadores serem ressarcidos dos danos sofridos. A primeira denúncia foi feita em 2020."É preciso educar as pessoas e punir com celeridade os infratores", justifica Evangelista.
Este sublinha que "os dividendos são, desde logo, dos recrutadores, quase sempre falsos intermediários, não registados na FPF". "Recebem dinheiro para fazer a ponte com um clube. Os dirigentes, geralmente de escalões inferiores e âmbito regional, acabam por beneficiar com jogadores estrangeiros a custos diminutos", acrescenta. "Se um destes atletas se afirmar desportivamente e for transferido para outro clube ou liga maior, todos lucram".
Avanços positivos
Evangelista acrescenta que, ultimamente, houve "alguns avanços", por proposta do SJPF, como é o caso do regulamento disciplinar da FPF, que prevê sanções para dirigentes e clubes "por violação de deveres de cuidado, ainda que o jogador se encontre a treinar no clube sem estar inscrito".
E acentua: "Após participação disciplinar de um estrangeiro a treinar num clube, inscrito ou não, confirmada por auto do SEF, o dirigente pode ser punido com dois anos de suspensão. O mesmo para o agente registado como intermediário, que pode perder a licença. Isto, sem prejuízo do enquadramento criminal", frisa.
Fenómeno preocupa Governo
Face ao aumento do tráfico humano no futebol, o Sindicato dos Jogadores pediu ajuda ao Governo. Este, através da Secretaria de Estado da Juventude e Desporto, promoveu já duas reuniões de trabalho, a última delas com a Federação Portuguesa de Futebol, Ministério dos Negócios Estrangeiros, SEF, Alto Comissariado para as Migrações, Secretaria de Estado da Justiça e Secretaria da Ação Social. "Queremos definir melhores procedimentos e propor medidas que ajudem a combater estes ilícitos, a punir quem os promove e a proteger as vítimas, dando-lhes assistência enquanto permanecem no país", diz o líder do Sindicato.
*Com Alexandre Panda