
Cláudia Simões foi vítima de agressões por um agente da PSP na sequência de uma altercação com um motorista de autocarro
Jornal "Contacto"
Os três polícias acusados pelo Ministério Público no caso de agressões a uma mulher, em janeiro de 2020, vão ser levados a julgamento.
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A juíza de instrução do Tribunal da Amadora decidiu, esta segunda-feira, levar a julgamento Carlos Canha, João Carlos Cardoso Neto Gouveia e Fernando Luís Pereira Rodrigues, os três agentes da PSP suspeitos de envolvimento nas agressões a Cláudia Simões, em janeiro de 2020, primeiro numa paragem de autocarros e, depois, num carro-patrulha, na Amadora.
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De acordo com o jornal "Público", a juíza confirmou na íntegra a acusação do Ministério Público (MP), que acusou Carlos Canha de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, três de sequestro agravado, um de abuso de poder e outro de injúria agravada contra a vítima. Os outros dois agentes, que estavam no veículo policial aquando das alegadas agressões do colega, vão ser julgados por um crime de abuso de poder e de nada fazerem para impedir a violência.
O caso aconteceu na noite de 19 janeiro de 2020, no Casal de S. Brás, Amadora, com a detenção da mulher portuguesa e angolana, na sequência de um incidente num autocarro envolvendo a falta do título de transporte da filha, com quem se fazia acompanhar. Segundo o relato de Cláudia Simões e a acusação do MP, após uma altercação com o motorista, este chamou um agente da PSP que ali passava, fora de serviço, alegando ter sido ameaçado pela passageira, que acabou por ser algemada e imobilizada pelo polícia junto à paragem de autocarros na Rua Elias Garcia, naquela zona - um episódio filmado por transeuntes.
Agressões e insultos racistas
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Entretanto, terão chegado os outros dois polícias, que terão ajudado a levar a mulher para o carro, onde, garante o MP, Cláudia foi agredida a soco e a pontapé por Canha. No trajeto de cerca de três quilómetros até à esquadra, enquanto a agredia, o arguido ter-se-á dirigido à vítima de forma violenta e insultuosa, adotando um discurso de teor racista. "Agora é que te vou mostrar, sua put*, sua preta do caralh*, seu caralh*, sua macaca", terá dito, na presença dos dois colegas, acusados de nada fazerem para travar as agressões, que acabariam por levar Cláudia para o hospital.
Na esquadra, duas outras pessoas, testemunhas dos acontecimentos, também terão sido agredidas pelo PSP.
A mulher, que, entretanto, foi constituída arguida e sujeita à medida de coação de termo de identidade e residência, foi indiciada dos crimes de resistência e coação sobre funcionário e ofensas à integridade física de que era acusada pelo polícia. Mas o MP - e agora a juíza de instrução - arquivou o inquérito por considerar que não havia provas contra si.
Na altura a PSP defendeu-se das acusações referindo que Cláudia Simões "se mostrou agressiva" e "mordeu o agente". Aliás, pouco depois do episódio, o diretor nacional da PSP, Magina da Silva, disse que não viu "qualquer infração" no vídeo da detenção de Cláudia Simões, apenas "um polícia a cumprir as suas obrigações e as normas que estão em vigor na PSP".
