A 4 de março de 2001, um autocarro, com uma excursão de Castelo de Paiva, e três automóveis caíram ao rio Douro na sequência do colapso da travessia. Nas primeiras horas após a queda da Ponte Hintze Ribeiro que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e Entre-os-Rios, o "Jornal de Notícias" avançava com a possibilidade de haver "70 mortos".
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Por entre o choque e a incredulidade de como foi possível cair uma ponte, arrastando para o imenso caudal do Douro um autocarro e três automóveis, ninguém sabia ao certo quantas pessoas tinham perdido a vida.
Há dias que chovia intensamente no norte de Portugal. O caudal do rio ganhou uma dimensão "muito maior que a normal", a "corrente estava forte" e tudo parece ter ajudado a que acontecesse uma das maiores tragédias ocorridas no país.
A frieza dos números foi confirmada mais tarde: 59 mortos (53 viajavam no autocarro) e, apesar do trabalho intenso dos mergulhadores, apenas 23 corpos foram recuperados. Alguns bancos do autocarro foram encontrados, dias depois do acidente, em praias da Galiza.
Tragédia a dois passos de casa
A história dos passageiros do autocarro, contada em pormenor nas páginas do JN, que ao início da tarde do dia a seguir à tragédia tinha uma segunda edição nas bancas, sensibilizou os leitores. O autocarro da empresa Asadouro tinha saído de manhã com moradores das freguesias próximas à ponte para, em excursão, fazer um passeio para ver as amendoeiras em flor.
No regresso, "a dois passos de casa", o quarto pilar da ponte ruiu, o autocarro caiu e morreram todos os passageiros. Das vítimas, 54 pertenciam ao concelho de Castelo de Paiva, duas ao de Cinfães, duas ao de Gondomar e uma ao de Penafiel.
No domingo, 4 de março, um dos primeiros a chegar ao local da tragédia foi Paulo Teixeira, na altura presidente da Câmara de Castelo de Paiva. O autarca vivia perto da ponte a apercebeu-se de que algo se passava. Foi um dos rostos que marcaram as notícias da queda da ponte.
Os governantes só pensam nas obras de Lisboa e do Porto. Não sei onde gastam tanto dinheiro
Horas depois da tragédia, pouco antes das três da manhã, Jorge Coelho, na altura ministro do Equipamento Social, pediu a demissão e, com ele, os secretários de Estado. O governo decretou dois dias de luto nacional.
A demissão de Jorge Coelho foi entendida como uma resposta às críticas de que, apesar dos problemas estruturais da ponte já serem conhecidos, o governo nada fez para os solucionar. Havia a promessa de construção de uma nova ponte que só avançou anos depois do acidente.
"Os governantes só pensam nas obras de Lisboa e do Porto. Não sei onde gastam tanto dinheiro", disse ao JN a filha de um casal que viajava no autocarro e que morreu na noite de 4 de março de 2001.