Delegada de Saúde pediu a funcionários infetados, sem sintomas, para voltarem ao trabalho. Instituição de Ovar desespera com utentes contagiados.
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Um e-mail da delegada de Saúde de Arcos de Valdevez dirigido ao lar de Grade, a indicar que "todos os funcionários que não tenham sintomas devem ir trabalhar" - "mesmo aqueles que o teste [à Covid-19] deu positivo" [sic] -, criou alarme a cerca de três dezenas de colaboradores da instituição, onde já foi registada uma morte. Em Ovar, o provedor da Santa Casa da Misericórdia implorou por ajuda, para evacuar o lar, temendo uma "desgraça".
O número de mortes em lares, pelo menos 41, continua a aumentar, mesmo com o reforço das desinfeções e o apelo para maior rapidez na divulgação dos resultados dos testes. No lar do Centro Social e Paroquial de Grade, há quatro utentes e quatro funcionárias infetadas. Com as restantes funcionárias a aguardar resultados, o e-mail da delegada de Saúde, Zulmira Afonso, veio "lançar o pânico", admitiu uma fonte próxima da instituição.
Ao JN, a médica assegurou que "houve má interpretação" da comunicação, garantindo que os trabalhadores do lar que venham a acusar positivo, mas que não tenham sintomas, "farão um período de isolamento de 10 dias". "Não há ninguém a trabalhar que esteja infetado", frisou a responsável, lamentando o atraso no resultado dos testes, os primeiros já realizados na segunda-feira. A situação já mereceu a atenção do PCP e o partido vai pedir esclarecimentos ao Governo.
"Venham ajudar"
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"Venham ajudar-nos antes que haja uma desgraça. Precisamos de retirar os idosos com Covid-19". O apelo desesperado é do provedor da Santa Casa de Ovar, onde, após a morte de um idoso de 97 anos internado no lar, já conta 27 outros utentes infetados, que estão na instituição a receber cuidados apenas de um médico de medicina geral e familiar.
"Alguns não estão estáveis. Somos um lar, não somos um hospital. O médico enviado pela autoridade de saúde não tem meios auxiliares de diagnóstico, não tem apoio", refere o provedor, acrescentando que os utentes diagnosticados precisam de cuidados hospitalares.
Entre 120 utentes, há 27 casos confirmados, 19 destes ainda no lar e oito hospitalizados. "Uma utente que estava no hospital foi mandada de volta para o lar com uma pneumonia. Isto não é humano", relata Álvaro Silva, que já pediu ajuda à autoridade de saúde.
O provedor queixa-se também da demora dos testes. "Faltam os resultados de 22 idosos e 18 funcionários. Com que base fazemos a separação dos utentes?", questiona. E teme o pior: "Queremos que os hospitais aceitem os idosos infetados. Eles precisam de assistência que nós nunca poderemos dar".
O Governo aprovou um despacho para os lares onde sejam detetados casos de infeção. O diploma determina que municípios, Proteção Civil, Autoridades de Saúde e Segurança Social encontrem equipamentos alternativos para alojar utentes e funcionários infetados e que não tenham necessidade de internamento.