Marta, a "menina milagre", luta para reverter danos causados por duas balas na cabeça quando o ex-namorado quis matá-la em 2015. Tinha 21 anos. Terapias são caras e pais apelam à solidariedade.
Corpo do artigo
Cada passo é calculado, ensaiado. Um a um. Marta reaprende a andar. Tenta equilibrar o corpo com os braços estendidos, punhos cerrados, como se fosse gritar vitória a qualquer instante. Porque é a triunfo que sabe cada centímetro palmilhado sem auxílio, para quem esteve quase condenada a ficar sem qualquer mobilidade.
"Tenho medo", segreda Marta. De perder o equilíbrio e cair desamparada, o corpo com os movimentos ainda rígidos, incapaz de reagir. Ela persiste, mesmo assim. Apesar do receio. "Vais sozinha", incentiva Alexandre, um dos fisioterapeutas que todos os dias trabalham com a jovem de S. João da Pesqueira para tentar reverter os danos causados pelas duas balas que lhe ficaram alojadas na cabeça quando o ex-namorado quis matá-la, a 15 de abril de 2015. Tinha ela 21 anos.
"Agora, vamos só caminhar um bocadinho pela clínica. Sem parar a passada; não pares", pede-lhe o terapeuta. É, literalmente, um passo de cada vez, e a mãe segue um a um. Tenta amparar desequilíbrios; estremece se Marta vacila. Estende-lhe sempre os braços, sempre. Maria da Luz Fernandes luta todos os dias ao lado da filha, para que não tenha de ser sempre assim. "Temos feito de tudo. Só paro quando ela andar sozinha, sem precisar de ajuda nem da mãe; quando ela conseguir fazer as coisas", promete, enquanto conta que todas as semanas viajam as duas de S. João da Pesqueira, onde a família vive, até à Maia, para que a jovem possa fazer tratamentos.
Além da terapia intensiva, Marta soma 32 cirurgias. "Tem sido muito dinheiro, muita despesa", desabafa Maria da Luz, amparada na esperança que se agiganta ao ver que a filha "está a ter uma boa evolução". Emociona-se: "Foi o neurologista que lhe disse: 'Marta, tu és um milagre'". E, desde que foi encontrada com vida, contra todas as expectativas, naquela manhã negra de 2015, Marta tem contrariado cada prognóstico negativo. "Os médicos diziam: "não tenha ilusões; a Marta nunca mais vai conseguir andar". Ninguém pensava que ela conseguia", recorda a mãe, que pensou ao contrário e tratou de apostar na reabilitação da filha logo após a alta hospitalar.
Grande vitória
Ricardo Oliveira, o fisioterapeuta da clínica Neuroglobal, que acompanha Marta desde o início, fala na "grande vitória" que foi pôr de lado a cadeira de rodas. "Quando a Marta começou [a fisioterapia] connosco, há seis anos, vinha numa cadeira de rodas, e a única coisa que conseguia era estar sentada. Agora, já consegue realizar marcha, e o objetivo é torná-la o mais autónoma possível na marcha", aponta o técnico, convicto de que, sem a terapia intensiva, a jovem "nunca conseguiria evoluir até ao ponto a que chegou".
Terapias custam 380 euros por semana
Com a subsistência ancorada na agricultura, os pais de Marta não têm como continuar a pagar as terapias intensivas se não puderem contar com a ajuda de todos. Além dos 300 euros por semana que custa a fisioterapia diária, são precisos mais 80 euros semanais para a terapia da fala. Para angariar verbas, a jovem recolhe tampinhas de plástico e rolhas de cortiça, que podem ser entregues na Maia (mais informações através da página de Facebook "Menina Milagre - Marta Nogueira"). Também é possível ajudar com donativos para a conta de Marta, com o NIB 004521404025236494985.