Depois de ter sido afastada como comentadora da RTP, Raquel Varela apresenta o "Maio", jornal que surge como espaço coletivo de crítica social e defesa dos direitos laborais. Com financiamento de sindicatos e leitores, publicará semanalmente artigos, entrevistas e reportagens, propondo-se ser voz independente dos trabalhadores.
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Após mais de uma década como comentadora na RTP e dispensada, Raquel Varela, historiadora de 47 anos, lançou esta quinta-feira o jornal "Maio", um projeto editorial que se quer coletivo e voltado para quem vive do trabalho. Em publicações no Instagram, a académica explicou que a sua saída coincidiu com a presença de comentadores ligados à extrema-direita na televisão e denunciou o risco de uma comunicação social dominada por linhas ideológicas restritivas.
"Esta minha carta é um convite à ação. A minha dispensa da RTP coincidiu com a apresentação de um programa com comentadores da área da extrema-direita (já quase não há direita), um deles fascista não disfarçado... Recebi apoio público de homens e mulheres de trabalho, da cultura, literatura, jornalismo. A todos, o meu muito obrigada", escreveu Varela, destacando que os números e mensagens recebidas evidenciam a necessidade de uma esfera pública mais plural.
"O trabalho no Maio é hoje voluntário. Se querem ser apoiantes, subscrevam a newsletter. Se vos interessa ser sócios ou prestar ajuda técnica, enviem um e-mail para contacto@jornalmaio.org", apelou Varela, sublinhando que, se não for com o "Maio", é essencial que as pessoas se organizem noutro projeto.
Jornal socialista e independente
O "Maio" nasceu da colaboração entre sindicalistas, jornalistas e ativistas, sendo financiado por cinco sindicatos independentes - SITEU, STASA, SNTSF, STOP e Simmper - e pelos leitores, uma abordagem inédita em Portugal desde os anos 1990. O jornal publicará semanalmente reportagens, artigos longos, crónicas e entrevistas e prepara ainda o videocast "Tempo contra o Tempo", focado na análise política e laboral.
"O fascismo não se derrota só, nem principalmente, nas urnas. Derrota-se com organização", escreveu Raquel Varela no Instagram, em referência ao projeto de alterações à lei laboral do Governo AD, apoiado pela Iniciativa Liberal e pelo Chega, que considera uma "contrarreforma" que ameaça direitos básicos dos trabalhadores, incluindo a greve.
Entre os membros do Comité Editorial do jornal estão, além de Varela, nomes como António Simões do Paço, Afonso Maia Silva, Adriano Zilhão e Gorete Pimentel. Os cronistas incluem António Garcia Pereira, Mário Tomé, Rui Pereira, Padre José Luís Rodrigues, Cristina Semblano, Joel Neto, Miguel Real, Manuel da Silva Ramos, António Carlos Cortez e ainda o autor de banda desenhada João Mascarenhas.
"O Maio é um espaço para debater ideias ao serviço da ação libertadora. A ordem do dia é a informação e organização independente de quem trabalha, o combate às guerras e à destruição de direitos que o capitalismo traz no seu ventre", pode ler-se no texto de apresentação do jornal.
O projeto editorial, desenvolvido nos últimos dois anos, encontra-se em processo de legalização da associação proprietária e seguirá depois para registo na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.