Fernando Martins, antigo diretor-adjunto do "Jornal de Notícias", morreu este sábado, no Porto, aos 84 anos. Com uma carreira de 40 anos, fez todo o percurso jornalístico no JN, de repórter a provedor do leitor, tendo sido fundamental no nascimento da versão online, em 1995.
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Fernando Manuel da Silva Martins nasceu no Porto, na freguesia de Massarelos, a 23 de Julho de 1940 (84 anos). Filho de Joaquina da Silva Coelho e de Fernando Martins, ambos portuenses, foi casado, em segundas núpcias, com Olga Vasconcelos também ex-jornalista do JN, falecida em 2023, com quem teve cinco filhos. De um primeiro casamento, em 1967, com Lucina Lídia Gomes, enfermeira do hospital de São João, foi ainda pai de dois filhos.
O corpo de Fernando Martins será velado na igreja do Foco, no Porto, a partir das 10.30 horas de quarta-feira. O funeral está marcado para as 14.30 horas de quinta-feira.
Fernando Martins iniciou a carreira de jornalista em 1963, na delegação do Porto do jornal “O Século”, ao tempo um dos mais antigos e prestigiados diários nacionais que se publicava em Lisboa, rivalizando com o “Diário de Notícias”. Alguns meses depois, foi convidado a mudar-se para o "Jornal de Notícias", onde faria carreira durante 40 anos.
Foi repórter, redator, editor e chefe de redação, e diretor adjunto do "Jornal de Notícias" durante 12 anos, em dois períodos diferentes. O primeiro, em 1980, com Alberto Carvalho, e depois com Freitas Cruz e Frederico Martins Mendes, nos anos 90. Deixou o JN em 2003, terminando uma ligação de 40 anos, retirando-se quando era provedor do leitor.
Num longo percurso, enriquecido com várias tarefas, Fernando Martins deixou uma marca importante de modernidade, tendo sido o principal impulsionador do JN Online. Uma "paternidade" que partilhou com os responsáveis técnicos da empresa, o engenheiro Gabriel Campos e o adjunto deste, Carlos Matos, para fazer nascer o primeiro diário digital de Portugal, em 1995.
Da equipa que deu a volta ao JN
"Foi verdadeiramente um jornalista do JN da cabeça aos pés", disse Carlos Sousa, ex-jornalista do JN, que começou a carreira no Grande Porto, a mesma secção onde debutara anos antes Fernando Martins. "Sempre tratou todos por igual. Lembro-me bem disso quando era um jovem naquela redação", recordou. “Era um camarada”.
Carlos Sousa recorda, ainda, "o cumprimento vigoroso a todos os jornalistas da redação" do JN e destaca a importância de Fernando Martins no sucesso do jornal. "Fez parte da direção e do grupo que deu a volta ao JN nos anos 80, até chegar ao jornal líder de vendas em Portugal", recordou.
Costa Carvalho, que foi sub-chefe de redação no "Jornal de Notícias" chefiou também a secretaria da redação, nos idos de 1970, com uma equipa que integrava jornalistas como Viale Moutinho, Jorge Cordeiro, Olga Vasconcelos e Fernando Martins. "Aprendi com eles o valor da dedicação ao jornal", disse, recordando a "grande lealdade" e "profissionalismo" do antigo diretor adjunto do JN e dos outros elementos da equipa. "A determinada altura fomos acusados de trabalhar de mais", recorda o antigo jornalista, com a boa-disposição que o caracteriza.
Segundo uma autobiografia online, corroborada por antigos companheiros, Fernando Martins colaborou ainda com outros jornais e revistas, nacionais e estrangeiros, fez Rádio e Televisão (Programa Yo-Yo, que sucedeu ao Zip-Zip, Teleforum e diversos outros de produção própria). Foi ainda correspondente das agências noticiosas ANSA (Itália) e The Associated Press (EUA).
Dirigente associativo e sindical
Para lá da redação, Fernando Martins foi, ainda, diretor da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, do Sindicato Nacional dos Jornalistas, e sócio fundador do Observatório de Imprensa. Faz parte dos órgãos sociais da Associação do Museu Nacional da Imprensa e Artes Gráficas desde a sua fundação e foi vice-presidente do Centro de Formação de Jornalistas, de que foi formador. Segundo a mesma biografia, foi, durante cerca de 17 anos, professor e diretor do Curso de Comunicação/ Marketing Relações Públicas e Publicidade da Escola Profissional de Centro Juvenil de Campanhã. Lecionou, ainda, na Universidade Moderna (Curso Pós-Graduação em Jornalismo); e no Instituto Politécnico da Guarda (Curso de Verão – Jornalismo).
O pai, que trabalhava numa empresa de de obras públicas e construção civil, induziu-lhe desde novo o entusiasmo pela engenharia, curso por que enveredou, na Universidade do Porto. No hiato entre os dois períodos em que serviu a Direção do JN, Fernando Martins cursou também Direito na Universidade Católica do Porto.