De tempos a tempos, reaparece a hipótese de consolidação administrativa da segunda maior aglomeração urbana do país. Passar de uma cidade com cerca de 250 000 habitantes para um contínuo com cerca de 1 milhão conferia densidade e seria um bom exemplo de racionalização administrativa. Mas a experiência deveria ter a configuração política de autarquia e não a de mera associação de municípios.
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O processo deveria iniciar-se pela criação de um ambiente favorável ao debate que tornasse claros os ganhos imediatos para o cidadão, reforçando as políticas de proximidade e definindo as compensações por perda de identidade das autarquias que fossem absorvidas. Mas só faz sentido este esforço se tudo for inteligível e se houver vontade política para que a fusão seja acompanhada de inovação institucional.
As funcionalidades que podem existir num espaço mais amplo são um elemento decisivo para a integração territorial. Gaia tem algumas vantagens sobre o Porto: mais população absoluta, área para expansão urbana, funcional e empresarial. Os grandes equipamentos urbanos passam a ser de um território económico mais alargado, que só ganha em ter um modelo de governação integrado e ajustado à natureza dos seus problemas.
Defendo que se deve começar pela maior integração dos tecidos urbanos do Porto e Gaia, divididos fisicamente pelo Douro, e pela exploração da complementaridade das funções urbanas a desenvolver em comum. Podia começar-se pela construção de novas pontes que ligassem as duas margens do Douro e assim prolongassem cada cidade para a outra margem. Mas pontes urbanas e não pontes com perfil de auto-estrada, que são muito mais caras e desajustadas a este objectivo.
Tradicionalmente, a responsabilidade de novas pontes era cometida à estrutura central que tutelava as estradas (JAE/EP). Daqui resultou o desinteresse dos dois municípios. Além disso, os recursos financeiros necessários são avultados e escapam à capacidade municipal.
Temos de abandonar o preconceito que temos tido no Porto em relação a novas pontes, porque as pontes são um factor vital de desenvolvimento de urbes com as características de Porto e de Gaia. Há exemplos de cidades da mesma dimensão e natureza onde as pontes se sucedem de 50 em 50 metros. No caso da ligação do Porto e Gaia, à cota baixa, ainda sobrevém uma outra dificuldade que resulta do facto de termos, em ambas as margens, zonas urbanas históricas sensíveis e consolidadas. Isso exige que a inserção das pontes na estrutura urbana existente seja cuidadosamente definida. Porém, tal como estamos, o ordenamento não integrado dos dois municípios pode tornar cada vez mais difíceis as boas soluções. É o caso da construção de um edifício que há dias se iniciou, do lado de Gaia, e que compromete irremediavelmente uma ponte a localizar no prolongamento da Rua D. Pedro V, solução que começava a ser óbvia e consensual junto de quem se debruçava sobre as possíveis hipóteses de novas pontes.
A integração física metropolitana já está a acontecer no Grande Porto. O metro do Porto tem feito mais por isso do que muito voluntarismo municipal. No entanto, não é suficiente. A Europa competitiva está a organizar-se em torno das grandes metrópoles. Ora o Porto, entre a Circunvalação e o rio, não tem condições para se configurar com esta definição.