CMTV é a televisão mais visada pelo relatório "Rigor e isenção na informação televisiva diária de horário nobre", da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). A entidade analisou parâmetros como rigor na identificação das fontes, presunção de inocência, representação das vítimas e não discriminação.
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Analisando mais de 170 horas de 140 edições de noticiários dos canais RTP1, RTP2, SIC, TVI e CMTV, durante o ano de 2023, o "Grande Jornal da Noite", da CMTV, é o espaço de informação que menos identifica a origem da informação veiculada, um dos princípios do jornalismo. "No caso da CMTV, a tendência verificada neste indicador é relativamente inferior", em que 66 % das peças cumprem o requisito, explica o sumário executivo do relatório, quando faz uma comparação com os valores dos outros canais, cujo cumprimento varia entre 86% e 93% dos conteúdos. Sobre o respeito pelo princípio do contraditório, a ERC não encontrou, em termos genéricos, reparos substanciais a qualquer operador.
Já sobre a presunção de inocência, no âmbito de processos judiciais em curso, as peças jornalísticas que desrespeitam este preceito da profissão "são residuais", mas a CMTV destaca-se por ser a autora de 13 das 14 peças identificadas. O "Telejornal", da RTP1, teve um trabalho sinalizado neste âmbito.
Proteção de vítimas
Um dos capítulos onde a crítica da ERC se dirige primordialmente à CMTV prende-se com a representação de vítimas de crime, incluindo menores de idade, ainda que sejam evidenciadas "boas práticas" na ocultação de identidade nestes casos. Todavia, registou-se, em 25 peças, uma ineficaz utilização desta técnica, sendo 13 referentes ao "Grande Jornal" (CMTV).
A entidade que regula a Comunicação Social em Portugal destaca, no canal da Medialivre, "peças em que são identificadas vítimas de violência doméstica, através da exibição das suas fotografias, ou fornecendo informações que permitem localizar a sua residência. A exposição de dados desta natureza vem afetar, igualmente, a vida privada das crianças (seus descendentes) que surgem, também elas, como vítimas do mesmo contexto de violência doméstica". Neste capítulo, foram detetadas 45 peças na CMTV, duas no "Telejornal", da RTP1, duas no "Jornal de Noite", da SIC, e quatro no "Jornal da Noite", da TVI.
Conteúdos violentos ou de cariz sexual
Segundo o trabalho da ERC, foram encontradas, em 2023, 55 trabalhos que apresentam elementos violentos que potencialmente podem suscetibilizar públicos sensíveis, como crianças e jovens, ainda que, em muitos casos, tenham sido utilizadas técnicas de ocultação da imagem e em outras tenha sido feito uma advertência prévia ao espetador. "O "Telejornal" (RTP1) e o "Jornal 2" (RTP2) registam ambos uma peça. Seguiram-se o "Jornal Nacional" (TVI) com sete peças, o "Jornal da Noite" (SIC) com nove peças e o " Grande Jornal da Noite" (CMTV), com o maior número, 37 peças. Destacam-se pela negativa a caraterização dos homicídios e acidentes que incluem descrições pormenorizadas, a exposição do momento da morte de uma pessoa, ou cenários de guerra, entre outros casos.
No que concerne ao respeito pela não discriminação, a ERC não identificou presença de elementos de incitamento à violência ou ao ódio contra grupos de pessoas ou membros dessas comunidades, ainda que, num conjunto de 18 peças emitidas pela CMTV, sobre a ocorrência de crimes em que estão alegadamente envolvidos cidadãos estrangeiros a residir e/ou trabalhar em Portugal, se corre o risco "de estar a contribuir para representações estereotipadas que associam a criminalidade a cidadãos estrangeiros".
Na dimensão da separação entre informação e opinião, a ERC encontra uma caraterística comum a todos os noticiários analisados, com espaços de comentário inseridos nos alinhamentos devidamente demarcados como opinião, porém, "merece reflexão a hibridização dos géneros jornalísticos em casos que desafiam a delimitação clara da natureza do conteúdo emitido".