O regresso de Donald Trump à Casa Branca está a ser um pesadelo para o setor dos média, com o regressado presidente a apresentar a versão mais agressiva e intolerante.
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Agora, o alvo é o “Wall Street Journal” (WSJ), que apesar da matriz conservadora não escapa à ira de Trump, porque teve a ousadia de criticar as taxas alfandegárias.
Num texto de opinião intitulado “Trump’s Tariffs Will Punish Michigan” (As taxas de Trump vão punir o Michigan), o jornal argumenta que os planos de Trump vão prejudicar “os trabalhadores da indústria automóvel dos EUA e as perspetivas republicanas no Michigan”.
Trump, recorde-se, ameaça impor tarifas de 25% sobre os produtos do México e do Canadá, uma medida que, segundo o WSJ, aumentaria os preços dos veículos produzidos nos EUA, prejudicando os trabalhadores da indústria automóvel e beneficiando os fabricantes asiáticos e europeus. “Se o objetivo é prejudicar os trabalhadores da indústria automóvel dos EUA e as perspetivas republicanas no Michigan, então avance, senhor presidente”, escreveu o jornal.
Na rede social, Truth Social, Trump escreveu que o WSJ está “tãããão errado”. “As tarifas levarão grandes quantidades de fabrico de automóveis para o MICHIGAN”, escreveu, para depois ameaçar com processos judiciais. “Um dia irei processar alguns destes autores e editores desonestos, ou mesmo os meios de comunicação em geral, para descobrir se estas ‘fontes anónimas’ existem ou não, o que em grande parte não acontece. São ficção difamatória e inventada, e um preço elevado deve ser pago por esta desonestidade flagrante. Fá-lo-ei como um serviço ao nosso país. Quem sabe, talvez criemos uma LEI NOVA E BOA!!!”, escreveu.
E o falhado acordo com a Ucrânia também não foi bem avaliado pelos média e o Conselho Editorial do WSJ voltou a ser muito crítico de Trump: “É desconcertante ver os aliados de Trump a defender este desastre como uma demonstração da força americana”, disse o conselho editorial do WSJ referindo que os objetivos dos EUA de limitar o expansionismo russo sem o uso das forças norte-americanas eram agora “mais difíceis de alcançar”.
Também o “New York Times” (NYT), de tendência progressista, criticou o comportamento de Trump: “O espetáculo de sexta-feira não deixará [Putin] mais disposto a parar o seu ataque” depois de invadir a Ucrânia em 2022. O NYT avaliou que a reunião descarrilada na Salão Oval apontou para a “determinação de Trump em acabar com as fontes tradicionais de poder da América - as alianças entre democracias com ideias semelhantes - e devolver o país a uma era de negociações brutas entre grandes potências”. “A parceria de três anos entre Washington e Kyiv foi destruída”, acrescentou o jornal.
Mas esta é só uma nova frente do combate de Donald Trump contra os média, depois de levar avante a decisão de passar a ser a presidência a escolher os jornalistas que têm acesso à Sala Oval da Casa Branca e outros eventos oficiais, o que já motivou uma carta conjunta das agências AP, Reuters e Bloomberg. A AP, recorde-se, está excluída por se recusar a chamar Golfo da América ao Golfo do México, enquanto a Reuters e a Bloomberg, que sempre tiveram lugar, são agora obrigadas a partilhar uma única posição.
Pelo meio, Jeff Bezos, multimilionário criador da Amazon e que também já é patrão de média, enviou uma carta aos jornalistas a introduzir alterações à opinião do jornal, que deve cingir-se a defender as liberdades individuais e o mercado livre. Bezos diz que já não faz sentido, como no passado, uma opinião ampla, que aborda todos os assuntos, pois isso hoje é feito na internet. Seja por desacordo, seja porque foi demitido, o editor de opinião está de saída do jornal, cada vez mais próximo do ideário político de Donald Trump.