Administração norte-americana retomou práticas controversas e impôs restrições a órgãos de comunicação social.
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Nos primeiros 100 dias do segundo mandato, Donald Trump implementou uma série de medidas destinadas a limitar, condicionar e, em última instância, controlar o ecossistema mediático norte-americano. Especialistas em comunicação e democracia apontam uma aproximação do presidente dos Estados Unidos ao modelo de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, onde o governo molda a paisagem mediática a seu favor e silencia a crítica através de canais subtis, mas eficazes.
Entre os desenvolvimentos mais significativos está a tentativa, retomada pela procuradora-geral Pam Bondi, de aceder a registos telefónicos de jornalistas com o objetivo de identificar fontes confidenciais, uma prática que já fora alvo de forte contestação em mandatos anteriores. Paralelamente, a Casa Branca reformulou o sistema de atribuição de lugares nas conferências de imprensa, limitando a presença de meios críticos e expulsando temporariamente a Associated Press, após esta agência recusar adotar a terminologia geopolítica preferida pela administração, substituindo “Golfo do México” por “Golfo da América”.
A construção de um ecossistema de informação alternativo, favorável à Casa Branca, também ganhou novo fôlego. O lançamento da plataforma “White House Wire” visa divulgar diretamente conteúdo alinhado com os interesses do presidente e filtrando a informação que chega aos eleitores. Trata-se de uma tentativa clara de ditar os termos da cobertura jornalística.
Simultaneamente, a administração Trump intensificou os ataques a órgãos públicos de comunicação. A NPR e a PBS estão na mira da Comissão Federal de Comunicações (FCC), presidida por Brendan Carr, nomeado por Trump. As investigações incidem sobre supostas irregularidades de financiamento e práticas editoriais, acompanhadas de recomendações ao Congresso para cortar o apoio financeiro a estas instituições, historicamente dedicadas a uma informação mais independente e educativa.
A Nieman Lab, um centro de investigação do jornalismo e dos media digitais da Universidade de Harvard, considera que estas ações representam uma ameaça séria à liberdade de imprensa. Apesar de não se tratar de censura direta, a pressão sistemática, o uso estratégico da máquina do Estado e o favorecimento de canais alinhados configuram uma tentativa de colonização do espaço mediático por parte do poder executivo.
O executivo de Trump, por seu lado, defende estas medidas como formas legítimas de garantir transparência, combater a desinformação e proteger os interesses nacionais. No entanto, vários analistas alertam para os riscos de um clima de desconfiança entre governo e media, num país onde a liberdade de imprensa é um dos pilares constitucionais.