Em palco o momento era solene. Peter Gabriel, uma orquestra com 46 músicos e uma versão de "Heroes", de David Bowie, deram início a duas horas de espetáculo para a maior plateia registada na 18ª edição do festival Super Bock Super Rock: 26 mil pessoas.
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Peter Gabriel apresentou-se na Herdade do Cabeço da Flauta, sábado, com a New Blood Orchestra, com a qual editou, em 2010, o disco "New Blood", em que é dada uma nova vida às suas canções.
John Metcalfe, responsável pelos novos arranjos, despiu as canções de todos os seus elementos rock e embrulhou-as em cordas e instrumentos de sopro que lhes dão toda uma outra dimensão. "Secret World" prolonga-se entre os diversos instrumentos e torna-se festiva e triunfal, antes da chegada de um dos momentos mais intensos da noite.
Peter Gabriel começa "Après moi", versão de uma canção de Regina Spektor incluída no disco "Scratch my back" (2010), em que o cantor britânico interpreta canções de vários músicos, que depois farão versões de músicas suas em "I'll scratch yours". Alguma coisa parecia correr mal. Take 2 e intimamente todos esperavam que Regina Spektor, que atuaria no palco secundário ao final da noite, se juntasse a Gabriel. O ex-Genesis recomeça e a cantora de origem russa entra em palco para um dueto memorável, enquadrado por violinos soberbos. A química é evidente, assim como a emoção de Spektor por partilhar o palco com um veterano da canção.
"San Jacinto" ecoa no recinto, mas não tão alto quanto seria desejável, dada a quantidade de conversas e gargalhadas que se ouvem. Os mais novos esperam religiosamente Skrillex e ignoram por completo o que se passa em cima do palco. Há quem acredite mesmo que pelejar com tubos luminosos é a opção mais sensata perante um elenco de músicos de excelência.
Entre as 50 pessoas que enchem o palco encontra-se Melanie Gabriel, filha de Peter, que faz voz de apoio com a norueguesa Ane Brun. Juntos dividem a interpretação de "Downside up".
Os êxitos "Solsbury Hill" e "Biko" foram deixados para o final, depois do muito merecido elogio, em português, ao trabalho da orquestra dirigida pelo maestro Ben Foster. Para o encore ficou "In your eyes" e a canção que - palavras de Peter Gabriel - "talvez seja importante para os dias de hoje": "Don"t give up".
Um espectáculo como o que Peter Gabriel e a New Blood Orchestra apresentaram merecia um palco bem diferente do do Super Bock Super Rock e um público deveras mais interessado.
Antes, Aloe Blacc - que assistiu à atuação de Peter Gabriel no fosso junto ao palco - espalhou a sua soul no Super Bock. Blacc é um comunicador por excelência e fala quase tanto como canta. Puxa pelo público enquanto lhe entrega canções que ficam no ouvido e mantêm a plateia animada.
"You make me smile" veio com um pedido para que todos na plateia se abraçassem; "Hey Brother" com um aviso claro ao público masculino: "Há por aqui homens que não tenham trazido as namoradas para poderem conhecer outras raparigas? Vocês também não sabem o que é que as vossas namoradas estão a fazer neste preciso momento." Em jeito de conclusão: "Loving You Is Killing Me". Para o final ficou o sucesso do álbum "Good Things", "I need a dolar".
A fragilidade de Perfume Genius proporcionou o final de tarde perfeito aos poucos que assistiram ao primeiro concerto do palco secundário. Perfume Genius é projeto de um homem só, Mike Hadreas, que se estreou em Portugal acompanhado por um baterista e um teclista.
Apesar de não estar sozinho em palco, a intimidade das canções permanece intacta e cada palavra é dita como se Hadreas esticasse até ao limite as emoções. Entre "Dark Parts" e "Hood", singles do último disco, houve direito a surpreendentes versões de "Helpless", de Neil Young, e "Oh father", de Madonna.
De chapéu de marinheiro e tacões verdes fluorescentes, a cantora espanhola Bebe foi a primeira a subir ao palco principal no último dia do Super Bock Super Rock. Público, pouco, mas Bebe não se deixou intimidar, oferecendo a mesma genica que pudemos ver, em dezembro passado, no Vodafone Mexefest.