"Temos o melhor lugar de Paredes de Coura", dizia, de sorriso largo e orgulhoso, Tiago, de 20 anos, com um grande bote de borracha às costas. "Temos sombra quando queremos e sol quando queremos. Estamos perto do rio, das casas de banho e do lixo. Não há melhor". Para ficar com o melhor lugar, Tiago veio na segunda-feira, uma semana antes do início do festival. Não foi o único.
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Anteontem, já várias centenas de tendas ocupavam praticamente todos os lugares com sombra do acampamento na margem direita do rio Coura. Nestes dias pré-festival, quem tem carro ainda pode descer até perto do rio para descarregar. Porém, a quem vem de transportes públicos, nada resta senão caminhar do centro da vila até à praia fluvial.
Era o caso de Juliana, Maria João e Daniela, todas de 21 anos, que, esgotadas da viagem, faziam uma pausa junto à ponte pedonal. O comboio tinha-as levado do Porto até Valença, a camioneta daí até Paredes de Coura. Ainda iam à procura de um local para montar a tenda. "Se ficarmos ao sol, a partir das seis da manhã, é para assar", explicava Maria João. E deixava mais um conselho a quem ainda há de vir: "Tragam tudo o que precisarem, porque se tiverem de ir ao supermercado, é subir até morrer".
Para quem não quer gastar dinheiro, uma boa e variada despensa é das maiores riquezas que um acampamento pode ter. Aliás, não raras vezes, monta-se uma tenda apenas para armazenar os mantimentos. Água, "minis" de cerveja, bolachas e muitos enlatados são os produtos mais apreciados. Guilherme, de 20 anos, trouxe toda a comida de casa, no Porto. Em dez dias, espera gastar apenas 50 euros. "Cinco euros por dia chega. É só preciso resistir ao cachorro antes de vir à noite para a tenda".
Esta é outra das razões por que o campismo já tem tanta gente ainda faltando vários dias para o festival. Além de se arranjar facilmente um bom lugar, aqui consegue-se fazer umas férias baratas. Todavia, o derradeiro e talvez mais importante motivo para tanta antecipação é o bom ambiente que se vive em Paredes de Coura.
"Este tipo de música propicia um ambiente porreiro e este festival não é tão comercial como os outros", assegurava Juliana. Helena, de 20 anos, confirma: "Este é o festival que mais me interessa e o que tem melhor música e melhor ambiente, por isso, vim tão cedo".
E, junto ao Coura, o tempo não custa nada a passar. Entre jogar cartas, dar uns toques numa bola, umas braçadas ou remadas no rio, conversar ou simplesmente deitar no relvado da praia fluvial, há muito para fazer. Tiago e Guilherme têm aproveitado bem os últimos dias e cada um com o seu barco de borracha lá vão eles Coura acima e Coura abaixo. "A continuar assim, daqui a quatro anos, somos nós que vamos ganhar uma medalha ao Brasil", antecipou Tiago.