Foi preciso esperar pelo dia seguinte para confirmar a dimensão sem precedentes da vitória socialista... e da abstenção. PSD e PS foram muito penalizados. Só CDU e independentes obtiveram mais votos.
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O melhor resultado de sempre de um só partido em autárquicas, a que António José Seguro se referiu na noite eleitoral, contabiliza-se em 150 presidências de Câmara, que não podiam deixar de corresponder ao pior score do PSD (apenas 106), apesar da multiplicação de alianças.
O triunfo "rosa" não oculta, no entanto, o impacto do aumento da abstenção. Ao subir para 47,4%, retirou mais de 560 mil votos aos sociais-democratas (coligações incluídas) e cerca de 250 mil ao PS. A esta negra contabilidade, só escapam os independentes - alcançaram, em conjunto, mais 118 mil votos do que em 2009 - e a CDU, que bem pode orgulhar-se de juntar 20 mil ao seu pecúlio.
No balanço de perdas e ganhos de câmaras, mais do dobro das 41 de há quatro anos, o PSD sai muito mal. Só na região Centro, foi afastado do poder em 22 câmaras. Na Madeira, em sete das dez.
O partido registou dos piores resultados de sempre em Lisboa e no Porto. Na Invicta, como em Sintra, Gaia e Portalegre, perdeu o pé por não ter conseguido travar a tempo dissidências. E bem pode agradecer ao CDS a "ajuda" aos adversários, não apenas no Porto, mas também em Coimbra, Covilhã, Santa Cruz, Aguiar da Beira ou S. Vicente. Os triunfos em Braga e na Guarda, sendo significativos, esvaem-se na onda negativa.
Perante o desaire eleitoral, não é de excluir que hoje, em Conselho Nacional, o PSD decida antecipar o congresso, previsto para o primeiro trimestre de 2014. Objetivo: lamber feridas e ajustar a estratégia com vista às eleições europeias do próximo ano.
Quatro capitais a menos
Entre as capitais de distrito, o PS perdeu Guarda, Braga, Évora e Beja. Não retirou sequer aos comunistas a maioria absoluta em Setúbal (onde era representado pelo secretário-nacional João Ribeiro), e em Almada, e chegou a tremer no Montijo.
O avanço socialista, porém, é indesmentível. Mede-se pelo número de câmaras "rosa" e pelo sabor de vitórias históricas, como Funchal e Vila Real, ou reconquistas, como Gaia, Sintra, Coimbra, Loulé, Nazaré e Tomar.
O facto de ter sido a força política escolhida para governar mais seis câmaras revela que a votação na CDU não se esgota na expressão do protesto face às políticas da coligação governamental.
Embora longe da meia centena de presidências dos anos 80, os comunistas recuperaram, essencialmente à custa do PS, grande parte do território alentejano que já foi seu. Por outro lado, voltam a deter maioria num município algarvio - Sines, que já governaram por duas vezes. E regressam às vereações em Matosinhos, Gondomar, Maia e Valongo.
O entusiasmo do CDS, justificado por juntar a Ponte de Lima mais quatro câmaras, três das quais arrancadas ao PSD, ignora os cerca de 20 mil votos perdidos. E também não leva em linha de conta a corresponsabilidade pelo insucesso de muitas das apostas feitas em parceria com os sociais-democratas.
Bem mais profundo foi o rombo desferido no barco bloquista: de uma assentada, perde 46 mil votos. Soma apenas oito mandatos e nem uma câmara.
Já os independentes, um grupo difuso e inorgânico, registam uma exponencial subida (ler pág. 16), em número de municípios governados (13) e em votos. Globalmente, já ultrapassaram os 344 mil (quase 7% dos votos expressos). Os partidos que se cuidem...
