As energias que ficaram por gastar no concerto de Anastacia foram canalizadas por inteiro para Pedro Abrunhosa, autor do concerto de encerramento. Um mérito que deve ser atribuído por inteiro ao músico portuense e ao excelente naipe de instrumentistas que o acompanhou.
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Com a motivação no máximo, Abrunhosa entregou-se com ardor a cada tema, muitos dos quais com novas roupagens que incluíram excertos de James Brown ou Prince.
"Prefiro o caos ao silênncio", disparou, num dos vários apartes dirigidos "aos corruptos que colocaram o pais neste estado". Comunicativo, fez ainda votos para uma futura união entre o Porto e Gaia, "a mesma cidade separada por duas margens".
A atuação de Pedro Abrunhosa veio fazer companhia ao naipe de bons concertos do festival, encimados por Hives, Gogol Bordello, Franz Ferdinand e Billy Idol.
Em forma de balanço, a organização congratulou-se com o que considerou ser o sucesso da edição comemorativa do decimo aniversario, a que assistiram nos quatro dias 95 mil pessoas. "O Mares Vivas já não é apenas o maior festival do norte. É um dos maiores festivais do pais", regozijou-se o vice-presidente da Câmara de Gaia, Firmino Pereira.
A edição de 2013 já tem datas: de 18 a 20 de Julho.
Da desilusão Anastacia ao furacão escandinavo
Anastacia deixou os tiques de diva em casa para proporcionar um concerto marcado pela informalidade. Excessiva informalidade, atrevemo-nos a dizer, porque diva que se preze cultiva sempre uma dose de mistério e inacessibilidade, o que não aconteceu com a norte-americana, que se apresentou até com um desleixo visual, no mínimo, surpreendente, algo que nem a esforçada simpatia conseguiu minimizar.
Mas nem terá sido apenas por aí que o concerto desiludiu tanta gente. A voz esteve a milhas do nível que a celebrizou, há uns anitos valentes é certo, e nem o truque de deixar para o fim os seus principais temas ocultou o tom sofrível do espetáculo.
Foi imediatamente antes de Anastacia que o Marés Vivas presenciou um dos melhores concertos de todo o festival. Autêntica locomotiva rock oriunda da Escandinávia, os Hives abalaram o recinto com uma atuação a que nada faltou para satisfazer a generalidade dos presentes.
As clareiras de público no início do concerto não tardaram a ser preenchidas ao longo da atuação por muitos milhares, cativados pelo irresistível cocktail sonoro da banda.
Já perto do final, os suecos cumpriram o sonho de vida de um fã, ao permitirem que o jovem, de nome Miguel, assumisse por alguns minutos o papel de membro da banda, tocando baixo ao lado dos seus ídolos. Inesquecível.
O contingente feminino esteve exemplarmente representado no derradeiro dia do festival, com as atuacoes de Luísa Sobral e Mónica Ferraz.
A primeira quase lotou o Palco Moche, reunindo uma multidão tal de fãs que talvez justificasse a sua inclusão no palco principal. Ainda por cima, assegurou um espetáculo irrepreensível que deixou por demais evidente, uma vez mais, o seu inegável talento. O ragtime, blues e jazz que povoam os seus temas são emoldurados por uma voz que tem tanto de doce como de poderosa.
A abrir o palco principal esteve Mónica Ferraz, cuja música soul e R&B se mostrou o acompanhamento ideal para um principio de noite tépido.
A apresentar o seu primeiro álbum, a antiga vocalista dos Mesa, "feliz por atuar" na sua cidade, incluiu no alinhamento vários clássicos da soul, tarefa da qual se saiu a contento.
