Apostados em provar que as notícias sobre o seu ocaso criativo eram manifestamente exageradas, os Franz Ferdinand arrancaram uma prestação que ateou a euforia no bem composto recinto.
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É verdade que os temas dos dois primeiros discos continuam a ser os mais saudados pela plateia, sobretudo o sempre inebriante "Take me out", mas a irrepreensível postura dos escoceses faz com que até as canções menos rodadas soem entusiasmantes.
Mesmo com o extravagante novo look - o cabelo cortado à escovinha e o inqualificável bigode dão-lhe uma pinta de jovem oficial das SS... -, Alex Kapranoscontinua a ser um 'front man' de respeito. Não necessita de adular o público nem perder-se em gestos fúteis para conquistar a plateia. Discreto, é um improvável agitador de massas, conduzindo-a com mestria até à euforia absoluta. Convincentes, eis o mínimo que se pode dizer dos Franz Ferdinand, sem dúvida autores do primeiro grande concerto do Marés Vivas. Quem protagonizará o próximo?
Não fossem os arreliadores problemas técnicos e o concerto dos Wolfmother teria constituído o primeiro grande momento do festival Marés Vivas. Não que tenham constituído uma desilusão, mas para quem costuma protagonizar atuações arrasadoras, ofuscando até cabeças de cartaz, esperar-se-ia mais.
Talvez para compensar os deslizes técnicos, Andrew Stockdale perdeu-se em elogios à assistência e em monólogos desnecessários que quebraram o ritmo do concerto. Ainda assim, o hard-rock deste quinteto com ar de ter saído diretamente dos anos 70 é eficiente q.b. para contornar quaisquer falhas.
Com o recinto já composto, mas ainda distante das 20 mil pessoas previstas pela organização, coube aos Sounds a honra de abertura do palco principal. Ao som de acordes operáticos, a banda sueca iniciou uma atuação que, sem nunca deslumbrar verdadeiramente, foi pródiga em energia e entrega.
Em pouco mais de uma hora, moveram-se com eficácia pelos territórios pop, incentivando a plateia com frequência para que fruisse o espetáculo. Pena que o reportório, bastas vezes banal, nem sempre tenha ajudado...
Palco Mosh abriu a tarde
Chegaram como absolutos desconhecidos para a esmagadora maioria dos presentes, mas terminaram o concerto com a convicção de terem conquistado um punhado de novos adeptos. Incumbidos da abertura oficial da edição deste ano, os portuenses "The Lazy Faithful" não acusaram o peso de tamanha responsabilidade e, durante 45 enérgicos minutos, protagonizaram uma atuação a que não faltaram sequer os inevitáveis "moshes".
Além das evidentes influências de Arctic Monkeys, o quarteto mostrou idêntico à vontade quando se aventurou por territórios como o reggae. O ponto alto foi uma versão hard-core de "Toma o comprimido", conhecido tema de António Variações, suficientemente explosiva para atrair ao Palco Moche um número invulgar de espectadores.
A juventude dominante no palco - presume-se que a maioria dos seus membros nem sequer tenha idade para votar - encontrava eco na plateia, na sua esmagadora maioria sub-20.
A míngua de concertos não atrapalhou os muitos milhares de pessoas que, ao final da tarde, já se encontravam no recinto. Opções para fazer passar o tempo não faltavam, com a distribuição em massa de brindes que provocaram autênticas romarias a stands. Outros, mais dados aos prazeres do estômago, aproveitavam a sombra para se deliciarem com as múltiplas ofertas gastronómicas existentes no local.
Também originários do Porto, a Indiana Blues Band conseguiu prolongar as boas impressões suscitadas pelo concerto inaugural.
Na segunda aparição do Palco Moche, o tal palco que não revela a ordem de atuação dos artistas, André Indiana revisitou magos como Muddy Waters, mas não faltaram sequer incursões pelo reportório de Nina Simone ou Doors. Interventivo, o músico tudo fez para conseguir estabelecer interação com o público, que, solícito, cooperou na plenitude.
