Candidatura independente arrisca continuidade do PS ou aposta da coligação de Direita.
Corpo do artigo
Continuidade é substantivo que não tem acompanhado as autárquicas em Faro, onde os candidatos não bisam vitórias. Neste cenário, a lista independente de um ex-presidente eleito pelo PSD tornou-se o factor surpresa.
Sem a confiança política do PSD, força pela qual esteve à frente dos destinos de Faro, entre 2001 e 2005, José Vitorino tornou-se a grande incógnita das eleições do próximo dia 11, graças ao seu movimento "Com Faro no Coração".
Ao lançar-se como independente na corrida contra o actual presidente eleito pelo PS, José Apolinário, e a aposta da coligação de Direita, Macário Correia, o ex-presidente laranja veio adensar as dúvidas quanto ao futuro político do município, onde os líderes tendem a não repetir mandatos e a alternância tem sido feita entre social-democratas e socialistas.
Depois de ter batido Vitorino por somente 700 votos, em 2005, José Apolinário apresenta-se agora com nova equipa e sob o lema da "modernidade e ambição". Já Macário Correia - que retirou a Isaltino Morais o epíteto de autarca-modelo do PSD - rumou de Tavira a Faro, para liderar a aliança "Faro está Primeiro" (PSD, CDS-PP, MPT e PPM), com intuito de "refazer a capital regional".
No meio deste xadrez, não é ainda de descartar o peso que a CDU e o Bloco de Esquerda possam vir a ter na futura gestão. Se Faro contava com sete vereadores, o executivo passará a ter mais dois, graças à revisão dos cadernos eleitorais motivada pelo aumento de eleitores.
"Todos os entendimentos pós- eleitorais que fizermos terão por base o nosso programa e o nosso compromisso com os eleitores", afirmou, ao JN, António Mendonça, cabeça-de-lista da CDU, que se guia pelo mesmo diapasão do BE. "A política do Bloco é de não fazer acordos políticos. O apoio às propostas das outras forças políticas dependerá sempre da sua concordância com o nosso programa", adiantou o candidato bloquista, João Brandão.
Que Faro chega as estas eleições? Inevitavelmente, a fragilidade nas contas municipais é um obstáculo para o qual a força vencedora terá de arranjar uma solução.
Propondo no seu programa eleitoral apenas uma gestão rigorosa (ler propostas de todos os programas na página seguinte), com a promessa de redução de custos de funcionamento e reestruturação de serviços, José Apolinário não respondeu em tempo útil às questões colocadas pelo JN sobre este e outros temas (ver caixa ao lado).
Segundo Macário Correia, um dos objectivos da sua coligação é renegociar o pagamento da dívida com fornecedores e credores, sem que esse encargo assombre o futuro dos funcionários municipais. A alienação de património é outra solução não descartada.
"Este executivo agiu de forma irresponsável e agravou a situação. Há cerca de 30 milhões de euros de facturação vencida não paga", disse o social-democrata, sublinhando que "isso não se traduz em investimentos". "São festas e propaganda partidária, cujas facturas foram encaminhadas para a Câmara Municipal", frisou.
Apesar do plano para equilibrar as contas de Faro não ser tão arrojado como o de Macário, José Vitorino também se propõe a renegociar a dívida, mas opta por apontar a obra feita no seu mandato, concluído em 2005: "Fez-se muita coisa com uma política de rigor. O saldo negativo reduziu-se de 65 milhões para 37,3". "Neste mandato, voltou-se ao esbanjamento e descontrolo", assegura o candidato independente.