Manuel Pizarro, candidato do PS à autarquia portuense, defendeu, esta terça-feira, que "uma parte do potencial para o futuro da cidade está na articulação entre o município e os estabelecimentos de ensino superior", nos quais reside "uma das maiores riquezas do Porto: os alunos".
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"O município do Porto tem um papel indeclinável naquilo que pode ser ou não ser o futuro Porto", considerou, para depois defender a aposta no conhecimento e na inovação. "É essencial o papel da Câmara junto dos estabelecimentos de ensino superior e dos centros de investigação para o desenvolvimento da cidade como território de incubação."
A ideia não é nova, reconheceu, mas é importante investir nela porque "há mais projetos interessados em entrar para centros de incubação do que centros de incubação com capacidade de resposta. E há muitas perguntas por responder em matéria da capacidade da cidade em acolher projetos empresariais bem sucedidos, que possam surgir desses centros".
Como exemplo, o candidato do PS referiu o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). "Tem pouco mais de 110 empresas, mas no último ano saíram doze e só um terço se fixou no Porto", lamentou. "Se o poder público não fizer nada para fixar as empresas na cidade, elas vão desviar-se para a periferia, onde em princípio as condições de instalação são mais fáceis."
O socialista foi o primeiro convidado do ciclo de conferências com candidatos à Câmara Municipal do Porto organizado pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), sob o tema "Que futuro para o Porto?" Rui Moreira será, na quinta-feira, o próximo convidado.
Pizarro, cuja prioridade da candidatura é, insistiu, a economia e o emprego, explicou por que razão uma bandeira "que não faz parte das competências da Câmara" é a sua principal preocupação. "Não sou candidato a diretor dos serviços municipalizados, nem sou candidato a chefe de secretaria", afirmou numa clara alusão ao percurso do atual presidente de Câmara, que criou vários gabinetes para agilizar o atendimento aos munícipes. "A autarquia deve ter serviços bons, eficientes e desburocratizados, mas a minha ambição é representar as ambições e preocupações dos cidadãos do Porto."
É uma crítica velada a Rui Rio, mas Pizarro garante que não critica o que o autarca do PSD fez. "Vivo bem com o q ue foi feito. O meu problema é o que não foi feito."
De resto, diz, há duas formas de ver a cidade: "Podemos descrever a situação do Porto com os indicadores mais negativos, que são impressionantes e assustadores: a cidade tem mais de vinte mil desempregados (19.2% da população ativa, uma taxa superior à nacional); cerca de 14 mil pessoas sobrevivem graças ao rendimento social; quase 30% da população vive nos bairros sociais, o que não tem comparação com mais nenhuma cidade portuguesa; tem uma situação demográfica muito difícil, em que 55 mil cidadãos têm mais der 65 anos, e desses, dois terços vivem isolados."
A "natureza dramática" desse cenário, garante, faz parte das suas preocupações, mas não invalida que a cidade não tenha um Lado B.
"Também há outra maneira de descrever a cidade, e não apenas pelas questões de natureza patrimonial. O Porto é a cidade do mundo em que as pessoas mais compram livros sobre a sua cidade. É a cidade que tem a maior universidade do país, o que é relevante num país hiper centralista como Portugal." Lisboa, recordou, "está agora a tentar fundir duas universidades para ser a maior, mas mesmo quando for a maior não será a que tem maior produção científica, porque o Porto tem mais do que as duas universidades de Lisboa juntas."
O Porto, continuou, "é uma cidade onde continua a existir um movimento cultural muito interessante em torno do eixo Serralves (meio milhão de visitantes em 2012), Casa da Música (480 mil visitantes em 2012), e Teatro Nacional São João. É vizinha de um aeroporto [Sá Carneiro] que duplicou o número de passageiros nos últimos seis anos, passando de três milhões para seis milhões, e vizinha de infra-estrutura logística como o Porto de Leixões, que é a mais eficiente e a que mais cresceu no país."
Os exemplos continuaram para demonstrar que economia e emprego não são competências autárquicas, mas que é à autarquia que cabe "servir de catalisador e de agregador das instituições e da vontade das pessoas do Porto, agregando e fomentando a cidadania, quer individual quer coletivamente."
É esse "patamar político de gestão municipal", sublinhou, que o distingue "daquele em que a cidade esteve nos últimos anos."
Na prioridade da economia defendida por Manuel Pizarro, está também a continuação da reabilitação urbana, já não só circunscrita ao centro histórico, mas alargada a toda a cidade.
"Temos que fazer um apelo às nossas escolas de engenharia e de arquitetura para que desenvolvam um modelo de reabilitação urbana que seja economicamente sustentável. Um metro quadrado reabilitado que custa dois mil euros não é uma reabilitação sustentável", criticou. É esse o preço médio do eixo Mouzinho-Flores.
O socialista, que se assume como "feroz regionalista", defende ainda a aposta no desenvolvimento de uma estratégia de internacionalização da economia da cidade, da Área Metropolitana e da região, apostando na cooperação com países com economias emergentes, como Xangai, que é maior centro financeiro da China.
"Na Câmara Municipal, nem os vereadores saberão que o Porto tem uma geminação com Xangai. Não acho que seja indiferente a geminação com uma urbe que tem vinte milhões de habitantes."