<p>Os norte-americanos Nine Inch Nails entraram em grande e saíram melhor ainda, dando, na madrugada de ontem, um concerto irrepreensível. É a música que fica a perder se se confirmar que esta será a sua última digressão.</p>
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Ao som das suas fortes batidas industriais onde a electrónica e a distorção tão bem se fundem, Trent Reznor e o resto da banda deram, numa hora e meia, sem intervalos e encores, um concerto memorável em Paredes de Coura. Para bem dos fãs e de todos os que apreciam música original e de qualidade, esperemos que a ideia de acabarem com o grupo não passe disso mesmo.
Já passava da meia-noite quando as luzes se apagaram para o concerto mais aguardado do festival. O palco encheu-se de fumo e a voz de Reznor encheu o ar com "Somewhat Damaged". Ao som de gritos e palmas, todo de negro, lá surgiu entre as brumas e levou a multidão ao delírio. Não havia um único espaço livre no auditório.
Com um início poderoso e demolidor, seguiram-se "Terrible Lie", "Sin" e a destrutiva "March of the pigs", que motivou uma mosh frenética em frente ao palco. O JN estava bem lá no meio e tem um vídeo que o prova.
Com dentes cerrados, punhos, cotovelos e pernas erguiam-se no ar. Colisões fortes e brutais de carne e osso. O pó que se levantava no ar sufocava, cegava e colava-se aos corpos suados que vibravam ao som da marcha industrial.
Apesar de violenta e caótica, há regras na mosh. A mais importante é: ninguém fica no chão. Quando alguém cai, imediatamente se forma um escudo protector e não faltam braços a levantar quem tombou.
Depois de um início tão brutal, havia a necessidade acalmar e o suave embalo de "Piggy" caiu como uma maravilha.
Trent Reznor alternava entre os sintetizadores, a guitarra e o microfone. As veias no pescoço pulsavam, tal era a convicção das palavras que cantava.
Um interlúdio instrumental com "The frail" e "La mer" também veio a jeito para recuperar o folêgo, pois o ritmo voltou a subir.
"The hand that feeds" e "Head like a hole" gastaram as poucas energias que ainda restavam depois de um intenso concerto. Nada falhou. Trent Reznor é um monstro em cima do palco e, se se confirmar que esta é a última tourné dos NIN, será uma pena para todos os apreciadores de boa música.
Todavia, ainda faltava o momento mais emocionante da noite. Aos primeiros acordes de "Hurt" as máquinas fotográficas e os isqueiros ocuparam o céu. A plateia cantou em coro todos os versos com Reznor que, foi evidente, sentia intensamente cada palavra que cantava. E o "império de poeira" que oferecia na música foi aceite por todos. Aliás, até se viram algumas lágrimas marotas a escorrer nas faces de metaleiros.
Meia hora depois de terminado o concerto, foi preciso os seguranças avisarem as pessoas que tinham de ir saindo, tal era a quantidade de corpos que ainda permaneciam no anfiteatro a absorver o grande espectáculo que tinham acabado de assistir. Vai ficar na memória.