Avenida dos Aliados, no Porto, esteve quase deserta toda a noite. No Marquês, em Lisboa, alguns carros e escassas buzinas. Festejos circunscritos às sedes do PS.
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O Porto é um espelho de Portugal? Sim, até talvez um espelho de aumentar: os resultados no Porto deram ao PS 41% de votos; ao PSD meros 29%. Então, por que se desconsola a dona Margarida Santos, sozinha com mais três donas, as quatro solitárias nos Aliados, ali de leques a abanar? "Não há nada, senhor, nadinha. Já viu que vergonha?", atira a dona Margarida, 72 anos - "tenho 27, não se ria, é 27 mas ao contrário" -, um vestidinho composto comprido, medalha ao peito, socialista de coração.
As outras três - Maria Judite, 46, "sim, 46 também ao contrário"; Maria José, 39, "é, 39, tá direito"; e Sofia Sousa, 59 - entreolham-se, estranham, olham ao redor e encolhem ombros, sem nada para animar.
Nem um palco, nem barracas, nem luzes, nem nada: a Avenida dos Aliados, a grande sala colectiva rectangular onde o povo vai sempre, haja o que houver para festejar, esteve estranhamente deserta e desolada, aquela mesma luz a amarelar, passam carros, autocarros, nada parece haver para festejar. Durante 90 minutos, das 21 às 22.30 horas, o JN estacionou e contou: cinco carros passaram com bandeiras, os mesmos cinco, a subir, a descer, a passar vagos, às vezes a buzinar. Cinco carros. "Só no Porto! Não somos bons nem para a festa!", ajunta-se ali Lurdes Ventura, 48 anos, sozinha a descer da Sé. "Bom, não vejo jeito, mas vou ficar mais um bocadinho, só para ver se isto levanta... ".
Não levantou - eram mais os jornalistas e polícias todos juntos, mas nem 20, do que os foliões desta vitória.
Ali há PS sentado, vamos ver: Amélia Teixeira, 57 anos, e Mário Costa, 47, são um casal, mas não são um do outro, residiam ali, sentados num nocturno tédio, a bandeira está a murchar. "É, somos poucochinhos", diz ela, "deve ser da crise", diz ele, "é a gasolina", torna ela, "não sobra nada para gastar". Chega-se ele: "PS, pois! Nós deitamos sempre no PS. O PS ajuda os pobres. O PS somos nós". São eles: desempregados, mas orgulhosos socialistas.
Só na capital parece ter havido fôlego para festejo na vitória eleitoral. Mas curto: alguns carros instantâneos rodaram o Marquês a zunir e a apitar e cerca de três centenas de socialistas juntaram-se junto ao Hotel Altis para ouvir o líder do regozijo a discursar, agitando punhos e bandeiras, vermelhas, amarelas, desfraldadas, e aquela libertária das seis cores a abanar. * com