"Olha a Marlene", clamou, de dedo em riste, a moradora da Sé à passagem lenta do autocarro pintado com as cores azul e laranja da candidatura do PSD/PP à Câmara do Porto.
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É viatura com nome próprio que pode mudar de forma, mas nunca de denominação desde a segunda campanha de Cavaco Silva para as eleições legislativas. Desde então que Marlene dá boleia a um partido só: o PSD. A Marlene 2009 pertence a José Pinto, proprietário e motorista de serviço, e até já transportou passageiros na linha 88 entre o Castelo do Queijo e S. Roque, nos anos em que serviu a STCP.
"A carreira mais famosa deste autocarro era a 88. Só foi pena que a STCP não tenha guardado mais veículos destes. Ficaram só com um no museu. Ele é branco, mas as pessoas da campanha cobriram-no com um vinil", conta José Pinto, do Montes Burgos, apaixonado por autocarros (tem quatro) que se estreia na campanha eleitoral do Porto. O seu voto, diz, vai para Rui Rio.
Diariamente, dá boleia ao candidato e aos apoiantes laranja pelas ruas do concelho, brotando música pelos altifalantes. Sem e com sotaque, mas sempre bem alto e a puxar o pé para a dança. Foi dada liberdade à juventude social-democrata para escolher a banda sonora e, entre os hinos da candidatura e do partido, apontam para ritmos populares.
Nestes dias, a preferência - repetida vezes sem conta - recai num sucesso dos Aviões do Forró. Mas "Quem é o gostosão aqui?", pergunta o artista brasileiro. A resposta sai imediata, afinada pelos apoiantes da coligação: "É o Rio, é o Rio, é o Rio"...
No entanto, são poucos aqueles que conhecem a história do nome próprio do autocarro na comitiva social-democrata. Mário Jorge Rebelo garante que a tradição começou com Cavaco. "A Marlene foi o nome dado ao autocarro de 1964 que usaram nas campanha para as legislativas no tempo de Cavaco Silva. Era muito antigo como este", recorda o social-democrata. Então, essa viatura pertencia a um militante de Vila do Conde já falecido.
"Ele tinha uma funcionária, uma militante muito devota, que teve a ideia de transformar um autocarro vulgar num descapotável. Esse autocarro passou a chamar-se Marlene, que era o nome da funcionária", continua. Desde então, as campanhas do PSD contam sempre com uma Marlene. E no Porto não é excepção. "Já em 2001, tivemos um autocarro panorâmico. Agora, conseguimos encontrar este autocarro inglês de 1968", atenta. A Marlene continua a rodar, muito lentamente, pelas ruas até sexta. Depois volta à garagem até à próxima campanha.