Com o conforto de quem conhece o Porto "como ninguém", por ser quem está na Câmara há mais tempo, Rui Sá apresenta-se mais uma vez à corrida autárquica. Com ataques ao poder vigente e ao adversário PS, "ferido de morte".
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A ideia era bonita. Apresentar a candidatura às eleições de Outubro em pleno coração histórico da cidade, num magnífico domingo de manhã. A CDU escolheu a Praça Pedro Vitorino, cantinho entre a Sé e a Ribeira. "Vista porreira!" enquanto coze o almoço dos militantes, na casa de um, sol radioso para quem opta por ouvir políticos em jeito de aperitivo. Pena os gritos das gaivotas, pena o cheiro de uma cidade que não prima pela limpeza.
Mas pena, sobretudo, os helicópteros que vigiavam a Porto Bike Tour. Justamente uma daquelas iniciativas, como a dos "bólides na Boavista", com que a CDU acusa o Executivo PSD/CDS-PP de querer mostrar trabalho. As primeiras palavras de Rui Sá, candidato à Presidência, foram dirigidas ao actual autarca, Rui Rio. Acusa-o de "tentativa desesperada de escamotear os fracassos" apresentando agora promessas que são as que não cumpriu durante o mandato.
Aproveitando o cenário da sessão - o Sol ficava inclemente, os helicópteros boicotavam o discurso, o cheiro saltava mais forte do granito das esquinas -, atacou a Sociedade de Reabilitação Urbana. "Sempre dissemos que não era o modelo" adequado para recuperar a cidade. "Cinco anos depois, basta percorrer estas ruas para perceber o fracasso". O povo do aperitivo acorda da letargia. "Isso é verdade, não fazem nada!".
Depois, há o Bolhão, cuja solução já foi remetida para o próximo mandato. Como as do mercado do Bom Sucesso e Ferreira Borges, do Pavilhão Rosa Mota, do Palácio do Freixo e do Parque da Cidade. "Com Rui Rio, o absoluto traço fundamental é entregar equipamentos e serviços aos privados". E gastar o erário público deslocando funcionários camarários para acções de campanha "em horário de serviço" com Manuel Ferreira Leite.
Nos mesmos lençóis está "a candidatura do PS", "ferida de morte". Porque a dupla candidata independente Elisa Ferreira diz que ama o Porto, "mas não fica se não for eleita presidente", porque diz que é independente e não se responsabiliza pelo que o PS fez até agora, mas "está defendida pelo secretário-geral do PS". Mas também porque o PS "foi suporte às medidas legislativas" da coligação PSD/CDS-PP. E tem nas suas fileiras um secretário de Estado (Manuel Pizarro, adjunto da Saúde), capaz de "vender" um voto a favor do projecto da maioria para o Bolhão "por um prato de lentilhas": haver "um socialista na comissão de acompanhamento".
Quanto ao lema de 2009, "Porto: a nossa causa", Sá orgulha-se. Como os do passado, "Porto para todos" e "Porto em primeiro", sabe que será repescado por alguém.