<p>O café Tom de Rosa, em Pêgo Negro, foi o ponto de partida para a visita a Azevedo de Campanhã, no Porto, mas a realidade tem to-nalidades mais negras, reveladas ontem, quinta-feira, pelo candidato da CDU à Câmara portuense, Rui Sá.</p>
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Por ali, nada se parece com a Baixa. As ruas pouco iluminadas e estreitas em terra batida ou em paralelo conduzem às ilhas labirínticas onde moram 20 famílias e às decrépitas habitações rurais sem saneamento e, em alguns casos, até sem água quente. Ramiro e a esposa, acamada há 17 anos, vítima de AVC, não conhecem os confortos de uma casa de banho com banheira onde sobre água quente. As necessidades são feitas no bacio, despejado directamente na fossa. Ramiro dá banho à esposa doente, numa bacia, no quintal, seja no calor do Verão, seja no frio do Inverno.
"É como no tempo de Salazar. Não tenho casa de banho nem saneamento. Dou-lhe banho no jardim. De Inverno, ela chora com a água", conta Ramiro à porta da casa onde vive há 39 anos e guarda os "montes de papéis inúteis", desde vistorias aos pedidos de casa nova feitos à Câmara ao longo dos anos. O caso, garante Rui Sá, já foi sinalizado pela Junta de Campanhã, mas continua sem solução. O comunista, ao lado de Artur Ribeiro, candidato da CDU à presidência da Junta, afiança que esta "é uma das situações mais dramáticas" que viu em 10 anos como vereador. "Não vou parar enquanto o senhor não tiver casa", promete Artur Ribeiro a Ramiro. No caminho até à casa, não faltam obstáculos: degraus, ervas e covas na terra. Para levar a esposa ao hospital, só com a ajuda dos bombeiros que a transportam numa maca.
Não muito longe fica o barraco de Cândida e Elísio. A casa onde viviam ruiu. Então, montaram, há três anos, um barraco do lado oposto da rua. Na entrada, lê-se o aviso "Baixa a tola" para os visitantes altos, mas, no interior, só há desconforto. "Durmo aos pés do meu homem no sofá", conta Cândida, entre as carcaças de velhos electrodomésticos enferrujados. A sucata é o único sustento.
Para Rui Sá, estes casos testemunham a insensibilidade social da gestão de Rui Rio. "É lamentável que o Porto tenha pessoas a viver nestas condições. Em 2001, o programa de Rui Rio previa a necessidade de investir em Campanha, mas, em oito anos, esta zona continuou esquecida. Por isso, digo, ao contrário de Rui Rio, que é preciso criar mais habitação social no concelho para famílias nestas situações.", sustenta Rui Sá. E relembra ainda que, há dois anos, propôs e foi aceite pelo Executivo que uma delegação dos vereadores visitasse Azevedo de Campanhã para conhecer os problemas e criar um plano de emergência: "Rui Rio fez o veto de gaveta", remata o comunista.