Depois de três horas mal dormidas, Ricardo Rio, o novo presidente da Câmara de Braga, voltou à rotina familiar. "Já fui levar as filhas à escola", disse o social-democrata, que assumiu que "defenderá sempre os interesses do concelho". "Serei oposição ao Governo caso seja necessário", assumiu.
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Mantém como primeira ideia pedir uma auditoria às contas da Câmara de Braga?
Sim. É uma decisão que vejo como um ato de responsabilidade. Quem pega numa instituição qualquer, seja pequena ou grande, tem que conhecer a realidade concreta, nomeadamente do ponto de vista financeiro. Acredito que haja situações na Câmara que não estejam refletidas nas contas oficiais.
Teme ser surpreendido com os resultados dessa auditoria?
Pela positiva não serei com certeza. Admito também que as surpresas não vão ser grandes ao ponto de colocar em causa a atividade da Câmara. É óbvio que vão existir falhas, mas acredito que não serão significativas.
Quais são as outras prioridades?
Há um conjunto de iniciativas que queremos desenvolver nos primeiros 100 dias que marcam uma diferença em relação ao passado e que abarcam várias áreas. Vamos mobilizar os funcionários para se sentirem parte integrante do processo de gestão municipal com um encontro entre todos. Também vamos chamar todos os presidentes de junta, pois é inadmissível termos autarcas a esperarem dois mandatos para falarem com o presidente da Câmara. Eu espero fazer essa reunião com todos numa semana. Vamos criar conselhos estratégicos, casos do económico-social, cultural e a criação de um pelouro estratégico de ligação às universidades. Ligação que vejo como fundamental entre a comunidade académica e a autarquia.
Dentro dessas medidas também está a retirada dos parcómetros do centro da cidade?
Não vou acabar com os parcómetros. O que vou fazer é revogar o alargamento que foi concretizado recentemente pela Câmara. Vamos reduzir a área, mas manteremos o cumprimento das normas da concessão à empresa privada que estão estabelecidas.
E a situação da Casa das Convertidas?
Esse é um processo que está com algumas dificuldades do ponto de vista jurídico. Como é conhecido avançámos com uma providência cautelar, recusada por sermos eleitos, mas um grupo de cidadãos fez o mesmo e aguardamos pela decisão. Se tivermos condições, vamos revogar a expropriação. Caso contrário, a nossa prioridade passa pela recuperação do monumento das convertidas e o projeto adjacente não entra no imediato.
Que outras prioridades tem para o mandato?
As zonas verdes e espaços de lazer vão ser alvo de uma mudança substancial ao longo deste mandato. Temos que aproveitar os que existem e criar outros. Estou a falar em ampliar o Complexo da Rodovia, o Parque do Picoto terá que ter uma ligação ao Parque São João da Ponte, a valorização do Estádio Municipal de Braga, as margens do Rio Cávado e as Sete Fontes.
A Lei dos Compromissos pode hipotecar os projetos que tem para a autarquia?
É uma condicionante à atividade municipal, mas sendo algo que dificulta não acho que seja negativo, pois vem disciplinar alguma atuação que no passado, lamentavelmente, se propagou por algumas autarquias levando a situações de grande irresponsabilidade.
Muitos contavam com um castigo ao Governo em Braga. Mas isso não aconteceu e até terá maioria. Como justifica a votação?
Os bracarenses fizeram uma escolha racional e lúcida, mostrando que sabem separar as coisas. Se virmos o resultado freguesia a freguesia, vemos que houve uma opção clara dos bracarenses para cada um dos atos eleitorais.
Sendo do PSD, como será a relação da Câmara com o Governo?
Tudo o que diga respeito a Braga, e que eu considere que não estamos a receber da parte do Governo a atenção ou a correspondência dos anseios bracarenses, seguramente que assumirei uma postura de oposição ao Governo. Terei uma postura rígida em defesa de Braga e dos bracarenses naquilo que diga respeito à Câmara.
Como foram as últimas 24 horas?
Muitas emoções, mas concretizou-se um desejo de longa data. Um desejo de muitos e também meu. Foi tudo muito especial. Festejámos até altas horas da madrugada. Estivemos na Praça de Município a celebrar, depois fomos comer qualquer coisa num bar. Muitos telefonemas pelo meio. Dormi três horas e voltei à minha rotina familiar.
Rotina que vai ser alterada?
Espero que, no essencial, nada mude. Vou assumir com total dedicação e responsabilidade o cargo para que fui agora eleito. Tenho que cumprir com os bracarenses, pois o importante não é ganhar, mas sim demonstrar com trabalho que valeu apena. Mas espero que isso não ponha em causa o meu acompanhamento familiar, pois isso para mim também é fundamental.