O secretário-geral do PS começou a campanha sem a certeza da vitória e nos últimos dias advertia que as sondagens não ganham eleições.
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Esquecidas as polémicas Freeport e TVI, a demissão em Belém poderá ter influenciado o voto dos indecisos.
A vantagem dada pelas últimas sondagens era confortável, mas após o amargo de boca das europeias, José Sócrates não festejou por antecipação. Ontem saboreou a vitória, sem que se saiba se o caso Fernando Lima - a demissão do assessor de Imprensa por Cavaco Siva - terá influído.
Habituado a vencer desde que entrou na política em meados dos anos 80 - foi eleito líder da distrital de Castelo Branco em 1986 e, um ano depois, na primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, deputado na Assembleia da República - o secretário-geral do PS deparou nestas legislativas com a primeira possibilidade, ainda que remota, de ser destronado.
A estratégia política foi traçada com antecedência: a vitimização face às adversidades enfrentadas à frente do Governo e apontadas no jantar de despedida do grupo parlamentar socialista, em Julho.
Tinha sido "a legislatura de todas as tempestades", frisou o líder do PS. Tantos sacrifícios pedidos aos portugueses para o défice público ser inferior aos 3% fixados por Bruxelas e a crise oriunda dos EUA desmoronara tudo.
Sem o mencionar, aludiu aos casos que mais o irritaram: a contestação dos professores nas ruas - mais de 100 mil -, as confusões no BCP e no BPN associadas às falhas de supervisão do Banco de Portugal, e sobretudo, as notícias sobre o seu percurso, antes e depois de ser governante.
Em 2007, foi o caso da Cova da Beira e da licenciatura obtida na Universidade Independente - encerrada pelo ministro Mariano Gago. Depois os projectos de arquitectura na Guarda nos anos 80 - quando trabalhava na Câmara da Covilhã -, que assinou e assumiu como seus. E por fim, em 2008, a polémica sobre a aprovação da construção do Freeport, na reserva ecológica do estuário do Tejo, em Alcochete, nos últimos dias em que foi ministro do Ambiente do Governo Guterres.
O Jornal Nacional de sexta, na TVI, explorava todas as semanas o filão e Sócrates insurgiu-se contra o que apelidou de "campanha negra". Soube-se então que a PT queria comprar a TVI, negócio sobre o qual o primeiro-ministro disse não ter conhecimento. Poucas semanas depois o Governo chumbou o negócio.
Mas o director de Informação da TVI, José Eduardo Moniz, saiu em Agosto. Ao mesmo tempo que o "Público" noticia as suspeitas de Belém de ser escutado pelo Governo. E a 3 de Setembro, na véspera do regresso aos ecrãs, o noticiário conduzido por Manuela Moura Guedes foi extinto.
Na vertente institucional, a cooperação estratégica com o presidente da República dá de novo sinais de desgaste. Cavaco vetou e mandou para apreciação da constitucionalidade uma vintena de diplomas e o caso das escutas era mais um episódio que ameaçava envenenar as relações.
Sócrates continuou a ser amado e odiado, como revelam as duas biografias publicadas: "O menino de ouro", de Eduarda Maio, subdirectora de informação da RDP, e outra, não autorizada, de Rui Costa Pinto, ex-jornalista da "Visão": "José Sócrates: o homem e o líder".