Há duas evidências neste Super Rock: está menos gente que no ano passado e a zona frente ao palco principal está mais verde. A diminuição de número de público não espanta e explica-se com uma programação que, ao contrário de 2011, não possui um nome capaz de seduzir foliões em barda.
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Também há outra razão que se traduz numa dúzia de letrinhas apenas: Optimus Alive. Para já, a organização não avançou com números - a olho nu dir-se-á que o primeiro dia de concertos do Super Rock terá recebido cerca de 15 mil.
A atmosfera na zona de campismo era sintomática dessa calmaria: a meio da tarde ainda abundavam vagas à sombra para as tendas, os sujeitos das barracas das bifanas permaneciam com os costados arrimados à espera de clientela, os frangos de churrasco a seis euros nem deviam ter saltado da capoeira.
A gente moça jornadeava por ali, em calções e chinelos, os óculos rei-bã comprados nos chineses a esconderem os olhos tingidos pelo haxe.
Pelo meio um novidade que merece vénia: um stand chamado "Super Cooler" que disponibiliza, gratuitamente, frigoríficos para a malta estacionar as cervejas trazidas do supermercado mais próximo. Só aceitam Super Bock, é claro, o que não é grave - acaso alguém de bom senso ousa beber outra?
Amiúde alvo de críticas e alguma maledicência lusitana de gente que não mexe as nádegas e passa a vida no facebook, o Super Rock, é justo dizê-lo, fez progressos estruturais: há mais condições, está tudo mais limpinho. É certo que há menos gente e isso ajuda à decência mas notam-se progressos. Como a verdura ali frente ao palco principal - que prado é aquele?
A ideia brotou da mente de Frederico Ferreira, um engenheiro agrónomo de 33 anos, também ele festivaleiro. Esteve cá o ano passado e como toda a gente topou e snifou poeira a granel. Em vez limitar-se a mandar vir, contactou a organização e disse "hei, se calhar eu posso ajudar-vos".
O homem é uma espécie de nerd das ervinhas, tem uma empresa chamada "Green Challenge", diz "sustentável" a torto e a direito. Parece bem intencionado e honesto nos propósitos: andou meses no Meco a tentar que da areia nascesse erva. Fê-lo com a ajuda de mais sete pessoas, entre as quais um jovem tractorista da zona.
E a erva acabou por nascer, pelo menos ali frente ao palco principal. Não é propriamente um relvado, é certo, mas nota-se que há verde naquilo que outrora era amarelo. "Tentamos não ir pelo caminho mais fácil, não destruir património ou muito menos colocar aqui alcatifa", explicou ao JN.
Ao salvaguardar que "este é um projecto piloto", Frederico Ferreira sublinhou que existem outras condicionantes que dificultam todo o processo, como a invasão de malta com jipes ou moto-4 que ali rodopiam no resto do ano. Ainda assim mostrou-se satisfeito com o resultado: "Fiquei contente de ver malta ali deitada", confessou.
No meio de tudo isto só uma má notícia para a turba festivaleira: as ervas em questão chamam-se Festuca e Azevém e não são propriamente indicadas para serem enroladas em mortalhas. "Não, não se podem fumar", assumiu o engenheiro agrónomo.