Êxitos dançáveis e um jogo de luzes pensado ao pormenor foi quanto bastou para que os The Killers arrebatassem as 28 mil pessoas que na sexta-feira marcaram presença no Super Bock Super Rock.
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Nesta 19.ª do festival, já se percebeu que o público quer ouvir bandas jovens e canções dançáveis com refrães orelhudos. Esta noite não foi excepção, com os The Killers e os Kaiser Chiefs a incendiarem o recinto.
Os The Killers optaram por lançar as cartas todas na primeira música, com "Somebody told me" a deixar de queixo caído quem esperava ouvi-la apenas mais perto do encore. Escolha inteligente para agarrar a multidão desde o primeiro instante, que ficou eufórica com este cartão de visita.
"Somos os rapazes da cidade do pecado", relembrou o vocalista, Brandon Flowers, referindo-se à Las Vegas mãe, que está no ADN deste quarteto.
"Smile like you mean it" é um hino entre o público, cantada em uníssono após "Spaceman" e "The way it was". "Human" sentou Flowers ao piano e entusiasmou a plateia, que se preparava para entoá-la a plenos pulmões quando a viu servir apenas de introdução a "Bling". A versão de "Shadowplay", dos Joy Division, não falhou o alinhamento, que incluiu ainda sucessos como "Jenny was a friend of mine" e "Mr. Brightside".
Com um rock que escorrega com demasiada facilidade para o campo da pop, os The Killers mostraram dominar a arte de entreter multidões. Flowers é um anfitrião competente e dedicado ao público e o sincronismo entre as canções e o espectáculo visual (luzes, projeções e pirotecnia) contribuem para que esta seja uma aposta ganha em qualquer festival.
A segunda casa dos Kaiser Chiefs
"É bom estar de volta a casa", disse vocalista dos Kaiser Chiefs, Ricky Wilson, no início do espectáculo. De facto, a banda é presença regular em Portugal, facto que parece apenas beneficiá-la. Assim que se fizeram anunciar, o palco principal não parecia o mesmo que tínhamos visto há alguns minutos atrás, com Tomahawk. De repente, havia uma multidão ávida pelos êxitos dos britânicos, que saltitava mesmo antes de se ouvirem"Everything is average nowadays" e "Everyday i love you less and less", escolhidas para dar início ao espetáculo.
Entre os êxitos retumbantes de "Modern way" (dedicada aos The Killers) ou "Ruby", a banda apresentou ainda duas canções novas, "Misery company" e "Coming Home". Ricky Wilson é, em grande parte, responsável pelo sucesso que a banda tem no nosso país, não se poupando a esforços para puxar pelo público do primeiro ao último minuto.
Entre Kaiser Chiefs e The Killers, no palco EDP, assitiu-se à estreia de Miguel. É considerado um dos novos valores do R&B norte-americano e, esta sexta-feira, percebeu-se porquê. Além de um punhado de canções interessantes, em palco Miguel é uma revelação. Apesar de ao vivo se fazer acompanhar por uma banda (Dj, um guitarrista, um teclista e um baterista), o cantor é a figura de quem não se consegue tirar os olhos. Dança de forma eletrizante e sem grandes artíficios, com uma intensidade que percorre o palco até chegar ao público. À voz envolvente junta-se uma performance de permanente sedução e provocação, que cria um ambiente quase íntimo em canções como "The thrill".
"How many drinks" serviu para celebrar a noite com o público, que se deixou seduzir pelo autor do muito aclamado "Kaleidoscope Dream".
Rock americano no arranque do 2.º dia de SBSR
O segundo dia de Super Bock Super Rock arrancou com rock norte-americano com assinatura dos Black Rebel Motorcycle Club e dos Tomahawk.
Depois de assistir a enchentes nos concertos de Faith No More, Mike Patton terá ficado, certamente, desiludido com esta passagem por Portugal com os Tomahawk.
Ladeado pelo guitarrista Duane Denison, o baterista John Stanier e o baixista Trevor Dunn (que o acompanha nas bandas Mr. Bungle e Fantômas), Patton veio apresentar o novo disco do grupo, "Oddfellows".
Animal de palco de estirpe rara, Patton foi igual a si próprio, coroando com a sua amplitude e diversidade vocal um rock duro, onde não faltam influências do metal ou da eletrónica.
Meteu-se com o a plateia em português - língua que arranha com alguma desenvoltura -, fez piadas, disse asneiras, e mesmo assim não conseguiu despertar os poucos que se juntavam em frente ao palco de uma certa dormência.
"Estão com sono?", perguntou a duas músicas do final do concerto, antes de encerrar com um "original fado americano", ou seja, uma canção country, e de se despedir com umas inusitadas "beijocas".
Às 20.00 horas, o recinto encontrava-se mais despedido do que no dia anterior, mas os norte-americanos Black Rebel Motorcycle Club, que vieram apresentar o seu último trabalho, "Specter at the Feast", não se deixaram atemorizar por isso. "Hate the Taste" e "Beat the Devil's Tattoo" foram as primeiras canções a ecoar no recinto, à medida que o sol descia no horizonte. Seguiu-se a versão de "Let the day begin", dos The Call, a escolhida para representar o novo disco. Uma homenagem ao líder da banda dos anos 80, Michael Been, que é pai de um dos membros dos Black Rebel.
Neste segundo dia de Super Bock Super Rock, as atenções dividem-se entre os vários protagonistas que subirão ao palco principal, apesar de nenhum justificar a enchente que se registava ontem ao final da tarde junto às grades, apenas por causa dos Arctic Monkeys.
Há t-shirts alusivas aos Black Rebel Motorcycle Club, aos Kaiser Chiefs, The Killers ou Tomahawk, mas há quem também traga a memória dos Faith No More estampada no peito. Para muitos, Mike Patton é sinónimo de Faith No More, mas os fãs não perdem nenhuma oportunidade de o ver a vivo, mesmo que seja com outros projetos.
Andreia Cardoso vai ver os Kaiser Chiefs pela 6.ª vez e mostra-se tão empolgada como se se tratasse de uma estreia. Com 22 anos, garante que foi ao som da banda que passou da adolescência para a idade adulta, e são muitas as memórias associadas às canções do grupo liderado por Ricky Wilson.
Para homenagear esta relação duradoura, decidiu tatuar no pé o nome da banda, seguida da palavra "Enjoyment". "Foi a melhor forma de marcar os últimos cinco anos com poucas palavras", explica a jovem de Espinho.
Com Andreia veio Jéssica Correia. A uni-las, a paixão pela banda, que há cerca de três meses fez com que criassem um clube de fãs do grupo: The Portuguese Angry Mob. A última vez que os viram ao vivo foi em maio, em Braga, quando banda atuou no Enterro da Gata.