Houvesse uma Rua de Santa Catarina em cada cidade do país e Sócrates estaria hoje mais confiante no resultado eleitoral. A "arruada" do Porto foi "máxima", em contraponto com a visão que o líder do PS tem sobre a aplicação do acordo com a "troika": mínima.
Corpo do artigo
A um dia do final da campanha eleitoral, José Sócrates viveu o momento mais vitorioso. Foi no Porto, na Rua de Santa Catarina, com milhares de pessoas a seguirem o líder do PS, entre a Praça da Batalha e o cruzamento com a Rua Fernandes Tomás.
"Santa Catarina sempre significou a ligação entre o PS e o grande povo do Porto, o povo da liberdade, da tolerância e da igualdade social. Não há povo como vós para dar força ao PS. A única palavra que tenho no espírito é esta: vitória, vitória, vitória", gritou, no final da "arruada", José Sócrates, que apelou ao envolvimento de todos no que resta da campanha.
Pouco mais disse o líder socialista, porque o gerador que fornecia energia para o sistema de som falhou. E logo quando Sócrates tinha mais gente a ouvi-lo. "Acontece. Esteve sempre a funcionar bem", lamentou um elemento da campanha.
Seja como for, o candidato socialista passou no teste da "baixa" portuense e, ao contrário do que se temia, não se registou qualquer incidente com a caravana do PSD, que também andou por aquelas bandas.
Na Batalha, onde os apoiantes se começaram a concentrar bastante antes do início da "arruada", a representação da Sé era a mais animada. Mulheres seguravam a fotografia de Sócrates e gritavam "vitória". E uma não largava um ramo de rosas vermelhas. "Para quem são?" "Para o engenheiro António Sócrates", responde Sílvia da Maria Preta. "Não é António, é José", corrigiu Adelina. "José ou António, não interessa. São para ele, com muito amor e muito carinho, para lhe dar sorte", acrescentou Sílvia.
"Pequena contribuição" na TSU
E se a "arruada" no Porto foi máxima, José Sócrates deixou ontem claro que tem uma visão mínima da aplicação do acordo com a "troika". Disse-o a propósito da Taxa Social Única (TSU) e da exigência que havia sido feita pelo líder do PSD para que o Governo explicasse a expressão "major reduction" (descida substancial), que consta do memorando assinado com as instâncias internacionais, daquele imposto. Como se sabe, os sociais-democratas defendem uma descida de quatro pontos percentuais, o que tem sido alvo de críticas do PS.
Ora Sócrates garante que não há qualquer novidade nos documentos do acordo com a "troika" sobre a TSU e esclareceu que, antes de mais, é preciso "estudar, calibrar e só depois decidir". "O que me parece errado é uma solução de descer quatro pontos percentuais a TSU, porque isso significa ir tirar ao bolso dos contribuintes, dos consumidores para meter nas empresas", disse, assumindo que defende apenas uma "pequena contribuição", que não quantificou.
Esta visão mínima sustenta os argumentos que Sócrates tem vindo a utilizar - e ontem reafirmou - de que o PSD quer ir além do que o acordo com a "troika". Isso, na sua opinião, significa "acrescentar mais austeridade e mais sacrifícios" aos portugueses.
O líder do PS terminou o dia com comícios em Viana do Castelo e em Barcelos. Hoje deve querer repetir o "banho de multidão" na descida do Chiado, em Lisboa.