Já se desconfiava que o concerto dos Ornatos Violeta fosse o mais concorrido de todo o festival. O que nem talvez os próprios músicos esperassem foi a incrível comunhão com o público, que reservou à banda portuense um tratamento que mais nenhuma outra da presente edição logrou atingir.
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Com o recinto muito proximo da lotação esgotada - o que levou Manel Cruz a suspirar um sincero "ai Jesus" mal subiu ao palco -, pairou nos momentos que precederam a entrada em palco a atmosfera dos grandes momentos. E, mesmo com as expectativas tão inflacionadas, não se pode dizer que tenham desiludido. Muito pelo contrário.
Um após outro, os 13 temas do aclamado "O monstro precisa de amigos" foram atacados com alma pelo quinteto. "Ouvi dizer" ou "Capitão romance" mereceram as maiores ovações, com a assistência - heterogénea, como se supunha, com fãs adolescentes lado a lado de um público mais veterano - a entoar de cor as letras. Mas às restantes foi dedicada devoção também intensa.
Ao cabo de uma hora de concerto, chegava ao fim a proposta revisitação na íntegra do segundo disco de originais que deu mote ao espetáculo. Liberta da pressão inicial, a banda atirou-se a raridades, inéditos em disco e temas de outras eras, como "Pára-me agora", "Tempo de nascer" e "Como afundar", que motivaram três encores, com a plateia insaciável a exigir o prolongamente do concerto até às duas da manhã.
A febre em redor da banda tem continuidade assegurada em breve: a 25 e 26 de outubro, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e a 30 e 31 de Outubro, no Coliseu do Porto.
Os Dead Combo de Tó Trips e Pedro Gonçalves, acompanhados por músicos da estirpe de Peixe, Alexandre Frazão e João Costa, protagonizaram "apenas" um dos melhores concertos de todo o festival de Paredes de Coura.
No papel de "intrusos" numa noite quase 100% portuguesa, os ingleses The Go! Team que começaram a sua atuação já depois das 21 horas - fizeram ecoar pelo recinto o seu caleidoscópio sonoro em que coexistem géneros diversos como a eletrónica, hip-hop 'old school' ou música étnica.
Dançável, ainda que sem rasgo por aí além, a música alicerça-se em grande parte na atitude incansável da vocalista, com o apropriado alterego de Ninja, que se move quase à velocidade da luz, impelindo a assistência a seguir-lhe os passos. Para tal, recorreu até à ancestral rivalidade ibérica, ao elogiar a entrega do público espanhol. A "bicada" não surtiu o efeito desejado, pelo menos na maior parte da assistência, que se mostrou renitente em seguir as ordens da cantora no sentido de se agitar em todos os sentidos, como se estivesse numa aula de aeróbica.
Mesmo sem causar a euforia que por certo desejariam, os Go-Team aumentaram o seu cartel entre nós, não sendo de estranhar um regresso em breve aos palcos portugueses, como desejou a vocalista.
Havia uma certa curiosidade em redor da atuação dos Dead Combo. Em disco, sabe-se há muito do que Tó Trips e Pedro Gonçalves são capazes: a criação de uma música intensa que despeja as entranhas alma portuguesa em temas, apesar de tudo, francamente universais, ao abrirem-se para outras culturas, como a africana ou norte-americana.
O próprio Tó Trips manifestou uma certa perplexidade pela escolha, confessando que, quando foram convidados para o festival, o primeiro palco que lhes ocorreu foi o do Jazz na Relva.
Os receios revelaram-se infundados. Acompanhado por músicos da estirpe de Peixe, Alexandre Frazão e João Costa, o dinâmico duo protagonizou "apenas" um dos melhores concertos de todo o festival. Em palco, as músicas ganharam uma desenvoltura e intensidade notáveis, pelo que não causou estranheza a adesão imediata da plateia, para espanto dos próprios músicos. Um dos momentos de Coura 2012, sem dúvida.