Assinala-se, esta quinta-feira, o Dia Mundial do Carocha, um automóvel cuja história começou a ser contada, em 22 de junho de 1932, quando Ferdinand Porsche assinou o contrato de produção com a Associação Nacional da Indústria Automóvel Alemã.
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Nascido antes da II Guerra Mundial, numa Alemanha fracamente motorizada, o carro teve de passar pelo crivo de Adolf Hitler, e responder a um caderno de encargos onde constava, entre outras coisas, que deveria carregar transportar dois adultos e três crianças (a típica família alemã da época, alcançar e manter a velocidade média de 100 km/h, não gastar mais de 7,6 l/100km, o motor deveria ser refrigerado a ar e deveria ser capaz de carregar três soldados e uma metralhadora, e o preço deveria ser menor do que mil marcos imperiais (o preço de uma boa moto na época).
Nestes 89 anos de estrada, foram produzidas cerca de 21 milhões de unidades, com as últimas a saírem, em 2003, da fábrica mexicana da Volkswagen. O Beetle, Carocha, Fusca ou Vocho (México) cumpriu, como poucos o objetivo de construir um automóvel que tinha como missão democratizar a mobilidade de uma forma fiável e acessível a todos. Hoje, o Carocha continua a marcar e a apaixonar diferentes gerações como fez ao longo de toda a sua história.
Nasceu como “carro do povo” (tradução literal do nome Volkswagen) e chegou a a Portugal a 17 de abril de 1950, sendo desde logo reconhecido pelos baixos consumos, mecânica simples e fiável, que levava a baixas despesas de manutenção.
Logo no primeiro mês de comercialização, foram vendidos em Portugal 36 Carochas, e, na década de 60, as vendas já totalizavam a 30 mil unidades, chegando, nos anos 70, aos 50 mil automóveis comercializados. Estima-se que, no total, pisaram estradas nacionais mais de 60 mil Carochas.
Um só dono
Poucos são os donos de Carochas sem histórias, que só ajudam a fortalecer a áurea do modelo, cmko é o caso do adquirido por Sandro Mêda, que esteve sempre nas mãos de um vizinho. Era uma versão de topo, com travões de disco, motor 1.5, suspensão reforçada e sistema elétrico de 12V.
“Este Carocha era a viatura pessoal de um diretor geral de um serviço público que tinha direito a automóvel do Estado com motorista, mas que apenas usava a viatura que lhe era atribuída nas deslocações de trabalho durante a semana. Nas tardes de sexta-feira, o motorista estacionava o carro do Estado à porta do diretor, ia para o seu fim-de-semana a pé, e o carro só voltava a sair do sítio na segunda-feira seguinte. Nas suas deslocações de fim-de-semana, o diretor conduzia-se a si próprio… no seu Carocha. Sempre! Teve-o até morrer. Comprei-o aos herdeiros”, recordou ao JN.
A proverbial robustez do motor foi posta à prova, no anos 80 do século passado, quando “na falta de gasolina, foi abastecido com petróleo convencional de limpezas, conseguindo completar o percurso sem grandes arritmias”.
“E, noutro caso, ter viajado num Carocha que fez algumas centenas de quilómetros a falhar, tendo-se verificado posteriormente ter uma falha estrutural na cambota - elemento principal num motor de combustão interna - que na maioria dos motores resultaria na sua imediata imobilização”, recordou.
Atingido por furacão
O Volkswagen de que Alfredo Barros Leite é dono foi salvo de uma sucata certa após ter sofrido severos danos quando foi atingido por um furacão na Flórida, nos EUA, e hoje passeia-se pelas ruas do Porto num estado irreprensível.
“Na década de 80 um amigo ligou-me a perguntar se não queria ficar com o carro para o restaurar. Aceitei o desafio e tratei de toda a logística do transporte até Portugal. A partir daí foram cerca de quatro anos em processo de recuperação, isto porque muitas das peças que estavam disponíveis na altura por vezes não estavam nas melhores condições, pelo que foi um verdadeiro desafio para o restaurar e hoje estar neste estado verdadeiramente imaculado”, contou.
Alfredo Barros Leite considera o Carocha “um dispositivo social de grande interesse”, sendo interativo, “está sempre online porque toda a gente cumprimenta quem o conduz e falam sempre sobre o carro cada vez que paro numa bomba de gasolina ou simplesmente para tomar um café”.
“Por vezes, até nos cruzamentos cedem a passagem para poder apreciar o carro em andamento e é notória a paixão ou como desperta sempre o interesse das pessoas quando está por perto. Acho que tudo isto o torna diferenciador face a outros carros históricos”, rematou.
Paixão familiar
Os 45 cavalos de potência, debitados por um motor de 1.6l de cilindrada, do VW 1303 de Pedro Almeida podem fazer-nos sorrir, mas à época, era o mais potente da gama. Importado da Alemanha em 1988, país onde fora construído 11 anos antes, foi totalmente restaurado em 1994, no seio de uma família que toda a vida respirou a marca alemã.
“Desde muito novo tive contacto com Carochas porque o meu avô trabalhou 30 anos na marca (na altura Sociedade Comercial Guérin,Lda), no Porto. Em pequeno ia para a oficina e passava algum tempo lá entre os escritórios e as reparações ao lado do meu avô. Muitas vezes ia com ele, ao fim-de-semana também, ter com um mecânico ou chapeiro conhecidos que percebiam do modelo e eram considerados o melhor para fazer determinado trabalho”, referiu Pedro Almeida