Sexta-feira passada, dia em que rebentou o escândalo do alegado lóbi ilegal no Parlamento Europeu a favor do Catar, a polícia encontrou malas com dinheiro na casa de Eva Kaili. Segundo relatos da Imprensa, a eurodeputada e vice-presidente do Parlamento (entretanto suspensa) tinha na sua posse "sacos de ingressos".
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Figura de proa neste novelo policial, a mesma Kaili, em novembro, tinha surpreendido os colegas eurodeputados com um discurso a proclamar que o "Catar é líder nos direitos laborais". Aqui chegados, qual foi o percurso da bela grega, de 44 anos, que fez fama na televisão antes de entrar para a política?
Kaili estudou Arquitetura e Engenharia Civil na Universidade de Thessaloniki. Prosseguiu os estudos na Universidade de Pireu, onde tirou um mestrado em Artes, deixando por concluir um doutoramento em Política Económica Internacional. Ao longo do percurso como aluna, chegou a presidir à Associação de Estudantes.
Tornou-se conhecida do grande público através do pequeno ecrã, entrando, assim, nos lares dos compatriotas. Entre 2004 e 2007, foi apresentadora na Mega Channel, a primeira televisão privada a operar na Grécia, e caiu nas boas graças dos telespetadores. Mais tarde, desempenhou funções como consultora na indústria farmacêutica nacional.
Os primeiros passos na política foram dados quando aderiu à Juventude do Pasok. Foi eleita para o parlamento helénico em 2007. Na altura era a mais jovem deputada do partido. Manteve-se no hemiciclo até 2012. Integrou diversas comissões, designadamente da Cultura, Educação e Defesa, mas também dos Negócios Estrangeiros. Por várias vezes representou o país em conferências e missões além-fronteiras.
"Lavagem de dinheiro"
Eva Kaili faz parte do Parlamento Europeu desde 2014, como membro do grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de onde foi agora expulsa. Enquanto vice-presidente superintendia pastas como as da Inovação, Tecnologia e Relações com o Médio Oriente, entre outras.
No Parlamento, esteve ainda ligada a áreas como a inteligência artificial, indústria e energia. Não sendo membro efetiva, integrava a delegação responsável pelo relacionamento com a Península Arábica, que engloba o Catar.
No mês passado, foi notícia uma visita efetuada ao país anfitrião do Mundial de futebol. Kaili fez então parte dessa comitiva da União Europeia, que encetou contactos ao mais alto nível com as autoridades cataris. As trocas de energia foram um dos assuntos da agenda.
Este domingo, quando já era conhecido que seis pessoas haviam sido detidas pela polícia belga, soube-se que quatro delas, incluindo Kaili, ficaram em prisão preventiva por indícios de "pertencerem a uma organização criminosa de lavagem de dinheiro e corrupção", de acordo com a Procuradoria de Bruxelas.
Também o italiano Francesco Giorgi, companheiro da eurodeputada e conselheiro parlamentar, terá ficado preso.
Destituída nas relações com o Médio Oriente
Assim que se tornou público o envolvimento de Eva Kaili na operação policial belga anticorrupção no Parlamento Europeu, em Bruxelas, a partir de Atenas, o Pasok tratou de a demitir de membro do partido. O anúncio da decisão surgiu logo na sexta-feira.
Desde que o assunto virou notícia e começou a ganhar proporções de escândalo, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, foi célere a reagir, prontificando-se a "cooperar plenamente com todas as autoridades judiciais e policiais".
O evoluir da gravidade da situação levou à suspensão do mandato de Kaili como vice do Parlamento no sábado, sendo destituída, entre outras, das funções de representação junto dos países do Médio Oriente.
Fonte do Partido Socialista Europeu disse à Lusa que declarações recentes de Kaili, a caracterizar o Catar como "pioneiro dos direitos laborais", causaram estranheza, mas nunca "passaria pela cabeça de ninguém que isso pudesse ter, pelo menos supostamente, outras origens".
Sem imunidade
Eva Kaili não pode beneficiar da sua imunidade parlamentar porque o crime de que é acusada foi detetado "em flagrante delito" na sexta-feira durante as buscas, conforme explicou uma fonte judicial à agência France Presse.
Um tribunal italiano confirmou a prisão domiciliária de Maria Colleoni e Silvia Panzeri, mulher e filha do ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, detido durante as investigações. Panzeri foi presidente da subcomissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu, entre 2017 e 2019, e manteve contactos com as autoridades do Catar.