O presidente ucraniano reafirmou esta quinta-feira a recusa em negociar o fim da guerra com o líder russo, Vladimir Putin, com Moscovo a responder que Volodymyr Zelensky deixou de ser um interlocutor da Rússia há muito tempo.
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Para Zelensky, as conversações "só serão possíveis se a Rússia retirar os seus soldados [da Ucrânia], admitir o seu erro e nomear um novo governo", como afirmou numa entrevista ao canal de televisão britânico Sky News, divulgada esta quinta-feira.
"Só então seria possível" negociar o fim da guerra iniciada com a invasão russa em 24 de fevereiro do ano passado, disse Zelensky.
"Para mim, [Putin] não é interessante, nem para me encontrar nem para falar", afirmou ainda, citado pela agência espanhola Europa Press.
Questionado sobre estas declarações, o porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, comentou que Zelensky não conta para Moscovo.
"Há muito que deixou de ser um possível interlocutor de Putin", disse Peskov, segundo a agência espanhola EFE.
Peskov acusou Zelensky de ter chegado à Presidência ucraniana com promessas que não cumpriu.
"Ele não resolveu o problema do Donbass. Ele não cumpriu os Acordos de Minsk, que, como se verificou, não tinha qualquer intenção de cumprir, e preparou-se para a guerra", disse.
Peskov referia-se aos acordos sobre a guerra separatista no Donbass, no leste da Ucrânia, que engloba as regiões de Donetsk e Lugansk, iniciada após a anexação russa da península ucraniana da Crimeia, em 2014.
Na sequência do conflito no Donbass, foi assinado um primeiro acordo em Minsk entre Kiev e os separatistas pró-russos, que teve um segundo documento em 2015, sob mediação francesa e alemã, e supervisão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Entre outras questões, a Ucrânia alega que o documento de 2015 foi assinado sob pressão por haver tropas ucranianas cercadas e considera que o acordo significa a perda de soberania no Donbass.
Antes da invasão da Ucrânia, Putin reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk, e alegou que a "operação militar especial" resultava de um pedido de ajuda dos líderes separatistas.
No final de setembro de 2022, Putin decretou a anexação das duas regiões do Donbass, a que juntou Kherson e Zaporijia, apesar de as tropas russas não controlarem já parte daqueles territórios na sequência de uma contraofensiva ucraniana.
Na entrevista à Sky News, Zelensky considerou que Putin nunca quis falar sobre o fim da guerra e que essa foi sempre a sua posição, "mesmo antes da invasão".
"Foi isso que Putin decidiu", afirmou.
Zelensky repetiu a advertência que tem feito aos aliados europeus de que a Ucrânia "é apenas um primeiro passo para Putin".
"Antes da guerra, houve reuniões. Vi um homem [Putin] que disse que ia fazer uma coisa e que fez outra. Para mim, neste momento, ele não é ninguém", contou à Sky News.
Acusou ainda a Rússia de enviar soldados para a guerra que servem apenas de "carne para canhão".
"Eles não querem saber das baixas. (...) É um número extraordinário. (...) Pelo que vimos e contámos, há milhares de mortos do seu lado e eles continuam a enviá-los", acrescentou.
Desconhece-se o número de baixas civis e militares da guerra na Ucrânia, mas diversas fontes, incluindo a ONU, têm admitido que será elevado.