Em 2011, um tsunami engoliu a Central Nuclear de Fukushima, fundindo três dos seis reatores e desencadeando uma catástrofe radioativa. Agora, o Japão prepara-se para começar a despejar no oceano mais de um milhão de toneladas de água tratada da central nuclear. O processo arranca este verão.
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Por que é que a água vai ser despejada agora?
A água ficou contaminada ao entrar em contacto com o combustível radioativo dos reatores, durante o tsunami. A operadora da central, a Tepco (Companhia de Energia Elétrica de Tóquio), trata e armazena no local águas subterrâneas, pluviais e de arrefecimento da própria central nuclear. Por dia, são gerados 100 mil litros de água contaminada.
Cerca de 1,3 milhões de toneladas de água radioativa estão armazenadas em tanques — o equivalente a 500 piscinas olímpicas. Neste momento, a capacidade de armazenamento da central aproxima-se da saturação, impondo o despejo destes resíduos.
Como está a ser descontaminada a água?
A Tepco tem filtrado a água contaminada para remover isótopos, deixando apenas o trítio, um isótopo radioativo de hidrogénio, difícil de separar da água. A água será diluída com água do mar até os níveis de trítio corresponderem ao limite legal, antes de a despejarem no oceano, através de tubagem, a um quilómetro da costa.
Qual é o risco do trítio?
As centrais nucleares desfazem-se, rotineiramente, de água com o isótopo trítio. Nesse sentido, as autoridades reguladoras apoiam que o mesmo seja feito com a água de Fukushima.
O trítio é considerado relativamente inofensivo, por não emitir energia suficiente para penetrar a pele humana. Porém, um artigo científico publicado pela revista “Scientific American" em 2014 adverte que, quando ingerido, pode aumentar o risco de cancro.
O que diz a Agência Internacional de Energia Atómica?
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) já aprovou o plano japonês para despejar a água tratada no mar. A reguladora da ONU defende que o projeto cumpre as normas internacionais e terá um “impacto insignificante” na população e no ambiente.
Segundo a agência de notícias francesa AFP, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, reuniu-se esta quarta-feira com moradores da região de Fukushima, para tentar tranquilizar as inquietações, e visitou a central nuclear. Trata-se de uma "prática geral aceite e observada em muitos locais do mundo", afirmou.
Quem se opõe?
Países vizinhos, organizações ambientais, moradores da região e, em particular, pescadores têm expressado preocupação com o despejo dos resíduos.
A China marcou uma forte oposição. O Ministério das Relações Exteriores chinês considera que o relatório da AIEA não tem condições para legitimar o plano japonês. "O Japão decidiu de maneira unilateral verter água nuclear usada no oceano. Minimiza os próprios custos e riscos, ao deixar que o resto do mundo assuma o risco inevitável de contaminação nuclear", disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, citado pela AFP.
Na Coreia do Sul, onde já ocorreram protestos, as sondagens mostram que 80% da população está preocupada. Park Ku-yeon, alto funcionário do governo, salvaguardou que Seul respeita a postura da AIEA, mas não irá manifestar uma posição definitiva até a conclusão da análise independente encomendada pelo Executivo.
Há anos que os representantes dos pescadores em Fukushima têm apelado ao governo para não despejar a água, argumentando que isso irá (novamente) arrasar a reputação das peixarias na região.
Quando termina o processo?
O despejo da água no mar deverá demorar décadas a ser completado, incluindo os processos de filtragem e diluição, bem como o já previsto descomissionamento da central nuclear.