O movimento de tropas russas em terra e no mar fez aumentar a tensão nos corredores diplomáticos entre Moscovo e Kiev. Imagens de satélite mostram o reforço militar na fronteira com a Ucrânia, numa altura em que crescem os temores de ofensiva.
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Está cada vez mais musculado o contingente militar na fronteira da Rússia com a Ucrânia. Além dos cerca de 35 mil soldados que estão, permanentemente, estacionados perto do território ucraniano, o Kremlin não foi poupado na hora de mobilizar homens para as várias zonas fronteiriças, com algumas unidades recém-chegadas a percorrerem mais de 6400 quilómetros, a partir do extremo oriente da Rússia.
A maioria das estimativas aponta para a existência de cerca de 100 mil tropas russas posicionadas ao norte, sul e leste da Ucrânia, apoiadas por artilharia, tanques blindados e aviões militares. E o ministério da Defesa ucraniano sobe mesmo a parada, estimando que haja 127 mil soldados russos na região (destes números estão excluídos os cerca de 15 mil separatistas russos que se acredita ocuparem as regiões ucranianas de Luhansk e Donetsk).
Imagens de satélite dão pistas
Imagens de satélite captadas pela Maxar Technologies (empresa de tecnologia espacial norte-americana) a 19 de janeiro, na gélida e inabitada localidade de Yelnya, podem fornecer alguns dados adicionais sobre a ação russa no território. A presença militar pode ser detetada, por exemplo, através da cor das tendas onde os soldados estão estacionados. Segundo a BBC, as tendas ocupadas estão aquecidas e, por isso, a neve que cai nos telhados acaba por derreter (formando o bloco mais escuro na imagem abaixo), ao contrário do que acontece nas desocupadas, que se mantêm brancas na vista aérea.
Por outro lado, veículos blindados podem ser identificados pela sua forma e, seguindo o mesmo raciocínio, é presumível que os que não estão cobertos por neve estejam no ativo. As marcas de pneus também apontam para deslocações de viaturas militares.
"Via diplomática" ou guerra
O aparente reforço da robustez russa tem motivado constantes alertas das potências ocidentais, que temem uma invasão à Ucrânia, embora a ausência de hospitais de campanha móveis em algumas áreas fulcrais da fronteira leve alguns analistas ocidentais a duvidar que a Rússia tenha já reunido tudo o que precisa para poder avançar para uma invasão terrestre.
Por seu turno, Moscovo nega planos de ataque, argumentando que o apoio da NATO a Kiev, incluindo o aumento do fornecimento de armas e treino militar, constitui uma ameaça crescente no flanco ocidental da Rússia.
Por não fazer parte da NATO, a Ucrânia não tem as mesmas garantias de segurança. Mas Stoltenberg deixou em cima da mesa a possibilidade de Kiev se tornar membro da aliança, argumentando que a Rússia não tem autoridade para decidir sobre os destinos das nações vizinhas.
Na quarta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, mostrou-se disponível para ouvir as preocupações de Moscovo quanto à segurança na região, mas deixou claro que não dá abébias quanto à exigência do não alargamento da aliança militar transatlântica à Ucrânia, que tem a promessa de integração desde 2008. E avançou que a NATO "aumentou a prontidão das suas forças", tendo a postos cinco mil militares que podem ser destacados "numa questão de dias".
Do lado do Estados Unidos - que, como a União Europeia, tomaram partido da Ucrânia no conflito que levou à anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014 -, Joe Biden já alertou várias vezes (a última foi na quinta-feira, durante um telefonema com o homólogo ucraniano) para a "possibilidade nítida" de haver uma invasão russa em fevereiro.
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Na quarta-feira, o chefe da diplomacia norte-americana disse que o país está disponível para discutir com a Rússia questões de controlo de armamento e medidas de reforço da confiança, de forma a evitar uma escalada militar. Mas esclareceu que a batata quente está em Moscovo e que Washington está preparada para agir em coordenação com a Ucrânia e os aliados europeus seja qual for a posição russa. O ministro dos Negócios Estrangeiros russos respondeu hoje que quer seguir pela via diplomática, mas assegurou que não permitirá que os seus interesses sejam violados ou ignorados. "Se depender da Rússia, não haverá guerra", garantiu Sergei Lavrov.
Exercício na Bielorrússia e formação no mar
Uma força russa de vários milhares de militares, com avançados sistemas de defesa aérea, munições e recursos médicos, foi transferida para a Bielorrússia - cuja fronteira fica a menos de 150 quilómetros da capital ucraniana - para um exercício militar conjunto que observadores ocidentais apontam como uma oportunidade para ensaiar uma missão contra a Ucrânia.
Paralelamente, as Forças Armadas russas têm planeados exercícios navais ao redor do globo até fevereiro, envolvendo cerca de 140 navios e embarcações de apoio, 60 aeronaves e 10 mil homens. Seis navios da Marinha russa que partiram do Mar Báltico este mês chegaram na quarta-feira ao Mediterrâneo, onde o Ministério da Defesa anunciou a realização de manobras marítimas.
Mas, tendo em conta as tensões em torno da Rússia e da Ucrânia, existe a preocupação de que o destino final da frota anfíbia possa ser o Mar Negro, a partir de onde estaria bem posicionada para apoiar uma potencial intervenção russa na Ucrânia. Por outro lado, há analistas que veem um eventual desembarque por tropas russas extremamente difícil, apontando que a mobilização de forças navais possa ser uma finta para afastar as forças terrestres ucranianas das rotas mais prováveis de ataques por terra.
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