"A América está de volta". Trump diz que fez "mais em 43 dias do que a maioria das administrações"
O presidente norte-americano Donald Trump disse, esta terça-feira, no Congresso dos EUA, que "a América está de volta" e só está a começar agora. No início do discurso, afirmou que o seu governo fez "mais em 43 dias do que a maioria das administrações consegue em quatro ou oito anos”.
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"Há seis semanas, estive sob a cúpula deste Capitólio e proclamei o início da era dourada da América", disse Donald Trump. "A partir desse momento, não foi mais do que uma ação rápida e implacável para inaugurar a maior e mais bem-sucedida era da História do nosso país".
Trump assegurou que a sua administração “conseguiu mais em 43 dias do que a maioria das administrações consegue em quatro ou oito anos”. "O ímpeto da América está de volta. O nosso espírito está de volta. O nosso orgulho está de volta. A nossa confiança está de volta. E o sonho americano está a surgir, maior e melhor do que nunca", continuou o líder norte-americano. "O sonho americano é imparável e o nosso país está à beira de um regresso como o Mundo nunca testemunhou e talvez nunca volte a testemunhar".
"Nas últimas seis semanas, assinei quase 100 ordens executivas e tomei mais de 400 ações executivas para restaurar o bom senso, a segurança, o otimismo e a riqueza em toda a nossa maravilhosa terra. O povo elegeu-me para fazer o trabalho, e estou a fazê-lo. De facto, muitos já declararam que o primeiro mês da nossa presidência é o mais bem-sucedido da História da nossa nação", afirmou o republicano.
O presidente norte-americano disse que impôs um congelamento imediato de todas as contratações federais desde que assumiu o cargo, bem como um congelamento de todas as novas regulamentações federais e de toda a ajuda externa. Gabou-se ainda de ter posto fim ao “ridículo novo golpe verde” e de ter retirado os EUA do “injusto” Acordo Climático de Paris, da “corrupta” Organização Mundial de Saúde e do “anti-americano” conselho de direitos humanos da ONU.
Num discurso que durou cerca de uma hora e quarenta minutos, Trump recordou também que declarou emergência nacional na fronteira sul e enviou o exército e a patrulha fronteiriça dos EUA para “repelir a invasão do nosso país”. Além disso, disse que, sob o governo de Joe Biden, que diz ter sido “o pior presidente da História americana”, houve “centenas de milhares de travessias ilegais por mês”. Trump afirmou que tudo o que o seu país precisava era "de um novo presidente" para travar a imigração ilegal nos Estados Unidos. "A imprensa e os nossos amigos no Partido Democrata continuaram a dizer: 'Precisávamos de uma nova legislação, precisávamos de uma legislação para proteger a fronteira'. Mas acontece que tudo o que precisávamos era de um novo presidente", congratulou-se.
Trump prometeu "fazer guerra" aos cartéis de droga do México, que acusou de violação e assassinato, além de "representarem uma grave ameaça" à segurança nacional dos EUA. "Os cartéis estão a travar uma guerra contra a América, e é tempo de a América travar uma guerra contra os cartéis, o que estamos a fazer", disse, intensificando a retórica depois de a sua administração ter designado vários cartéis latino-americanos como organizações terroristas estrangeiras.
Por outro lado, afirmou que acabou com as restrições ambientais de Biden que, segundo ele, estavam a tornar o país “muito menos seguro e totalmente inacessível”. “É importante destacar que terminámos o mandato insano de veículos elétricos da última administração, salvando os nossos trabalhadores e as empresas automóveis da destruição económica”, continuou.
Tarifas em vigor a partir de 2 de abril
Trump acusou a administração Biden pela elevada inflação. "Como sabem, herdámos do último governo uma catástrofe económica e um pesadelo inflacionário. As suas políticas aumentaram os preços da energia, aumentaram o custo dos alimentos e deixaram as necessidades básicas fora do alcance de milhões de americanos", disse.
O presidente dos EUA impôs uma tarifa de 25% sobre o alumínio, cobre, madeira e aço estrangeiros e assegurou que será necessário pagar uma tarifa se não se fabricar produtos na América, dizendo que outras nações cobram tarifas “tremendamente mais elevadas” do que as cobradas pelos EUA. “Outros países têm usado tarifas contra nós durante décadas e agora é a nossa vez de começar a usá-las”, afirmou, acrescentando que entrarão em vigor a 2 de abril. "As tarifas não são apenas para proteger os empregos americanos. São para proteger a alma do nosso país. Haverá uma pequena perturbação, mas estamos tranquilos com isso. Não será muita".
Desde que regressou ao poder, Trump impôs tarifas que ascendem a cerca de 1,4 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) em importações dos EUA provenientes do Canadá, México e China. As medidas causaram uma onda de choque nos mercados financeiros, gerando retaliações rápidas, incluindo tarifas e outras medidas. O presidente norte-americano acusou ainda o México e o Canadá de terem permitido que o fentanil entrasse nos EUA “a níveis nunca antes vistos” e de “matar milhares” de cidadãos norte-americanos. Além disso, Trump comprometeu-se a impor uma taxa adicional de 10% à China, com o argumento de que o país não fez esforços suficientes para combater a entrada de fentanil nos EUA.
Trump garantiu que o Congresso vai aprovar cortes de impostos “para todos”, com exceção para impostos sobre gorjetas, horas extraordinárias ou benefícios da Segurança Social para os idosos. Além disso, quer tornar os juros dos financiamentos automóveis dedutíveis nos impostos, mas apenas se o carro for fabricado nos EUA.
Gasoduto "gigantesco" e "produção de minerais essenciais e terras raras"
O líder norte-americano falou ainda da sua prioridade em reduzir o custo da energia. “Foi por isso que, no meu primeiro dia no cargo, declarei emergência energética nacional", afirmou, assegurando que os EUA têm mais “ouro líquido” debaixo dos pés do que qualquer outro país na Terra. “Autorizei totalmente a equipa mais talentosa alguma vez reunida a ir buscá-lo”, acrescentou. Os EUA estão a trabalhar também num gasoduto “gigantesco” de gás natural no Alasca e Trump garantiu que o Japão, a Coreia do Sul e outras nações querem ser parceiras “com investimentos de triliões de dólares”. “Está tudo pronto para começar”, garantiu. Trump prometeu também tomar “ações históricas para expandir drasticamente a produção de minerais essenciais e terras raras” nos EUA.
Materiais como grafite, lítio, urânio e os 17 elementos químicos conhecidos como terras raras são essenciais para o crescimento económico, para o desenvolvimento tecnológico e para a segurança nacional. O anúncio surge após a suspensão da assinatura de um acordo com a Ucrânia para a exploração de recursos minerais ucranianos, na sequência de uma discussão acalorada na passada sexta-feira entre Trump e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Trump anunciou que vai introduzir o sistema de vistos “cartão dourado” com um potencial caminho para a cidadania americana por cinco milhões de dólares (equivalente a 4,7 milhões de euros). “É como o 'green card', mas melhor e mais sofisticado”, disse, acrescentando que vai criar um número “enorme” de empregos e “grande sucesso” para as empresas. “Agora traremos pessoas brilhantes, trabalhadoras e criadoras de emprego”, explicou. “Vão pagar muito dinheiro e vamos reduzir a nossa dívida com esse dinheiro.”
O presidente dos EUA disse que o país recebeu 1,7 biliões de dólares (1,6 biliões de euros) em novos investimentos "só nas últimas semanas", incluindo 200 mil milhões de dólares (188 mil milhões de euros) da SoftBank, 500 mil milhões de dólares da OpenAI e da Oracle (470 mil milhões de euros), 500 mil milhões de dólares da Apple e 165 mil milhões de dólares (155 mil milhões de euros) de um fabricante de semicondutores de Taiwan. Na segunda-feira, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company prometeu investir pelo menos 100 mil milhões de dólares (94 mil milhões de euros) para expandir as suas operações de fabrico nos EUA.
Trump agradece a Musk
Trump recordou a criação do “departamento de eficiência governamental”, apontando para Elon Musk, que está a assistir ao discurso. “Obrigado”, disse o presidente dos EUA, acrescentando que Musk tem “trabalhado muito”. “Ele não precisava disto”, afirmou Trump sobre Musk. "Muito obrigado. Nós apreciamos isto”.
Sobre o sistema de justiça norte-americano, Trump disse que foi “virado de pernas para o ar” por “lunáticos radicais de esquerda”. “À medida que recuperamos a nossa soberania, devemos também trazer de volta a lei e a ordem às nossas cidades e vilas”, afirmou, acrescentando que o seu governo quer restaurar uma “justiça justa, igualitária e imparcial”, começando pelo FBI e pelo Departamento de Justiça.
Trump disse que assinou uma ordem executiva para a pena de morte obrigatória para quem assassinar um polícia e também pede ao Congresso que aprove leis mais duras para os reincidentes.
“É tempo de acabar com a guerra sem sentido”
Trump disse que “estão a acontecer muitas coisas” no Médio Oriente e confirmou que está a trabalhar para "trazer de volta os nossos reféns de Gaza".
Sobre a Ucrânia, assegurou estar a trabalhar “incansavelmente” para acabar com o “conflito selvagem”. “Milhões de ucranianos e russos foram mortos ou feridos desnecessariamente neste conflito horrível e brutal sem fim à vista”, afirmou.
O presidente dos EUA disse ainda que recebeu uma carta “importante” do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que disse que Kiev está “pronta para vir à mesa das negociações o mais rapidamente possível” e que a sua equipa está pronta para trabalhar “sob a forte liderança do presidente Trump para obter uma paz duradoura”. Trump sublinhou que a carta de Zelensky afirma que “realmente valoriza o quanto a América fez para ajudar a Ucrânia a manter a a sua soberania e independência”. “A Ucrânia está pronta para o assinar a qualquer momento que lhe seja conveniente”, lê-se na carta de Zelensky, segundo Trump.
O líder norte-americano referiu que, “simultaneamente, tivemos discussões sérias com a Rússia” e que os EUA receberam “fortes sinais” de Moscovo de que estão “prontos para a paz”. “Não seria lindo?”, questionou. “É tempo de acabar com a guerra sem sentido”.
Em relação à Defesa, Trump diz que pediu Congresso para financiar um “escudo de defesa antimíssil” para proteger os EUA.
"Existem apenas dois géneros" nos EUA
O presidente dos EUA assinou ainda uma ordem que torna o inglês a língua oficial dos Estados Unidos, renomeando o Golfo do México para “Golfo da América” e “acabou com a tirania das chamadas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão” em todo o governo federal, setor privado e exército dos EUA.
Afirmou também que “removeu o veneno” da teoria crítica da raça das escolas públicas, que assinou uma ordem que torna a política oficial do governo dos EUA que “existem apenas dois géneros: masculino e feminino” e outra destinada a impedir que atletas transgénero participem em desportos femininos. Trump assinou também uma ordem executiva que proíbe as escolas públicas de “doutrinar” crianças com “ideologia transgénero” e quer que o Congresso aprove um projeto de lei que proíba e criminalize permanentemente a mudança de sexo em crianças. Além disso, assinou uma ordem executiva a ameaçar reter o financiamento federal de hospitais que oferecem cuidados de afirmação de género a indivíduos com menos de 19 anos.
EUA vão "ficar com a Gronelândia de uma forma ou de outra"
No seu discurso, Trump disse ter uma mensagem para o povo da Gronelândia. “Apoiamos fortemente o vosso direito de determinar o vosso próprio futuro. Se escolherem, dar-vos-emos as boas-vindas aos Estados Unidos da América”, disse. "Acho que vamos conseguir, de uma forma ou de outra, vamos conseguir. Vamos manter-vos em segurança. Vamos tornar-vos ricos e juntos levaremos a Gronelândia a patamares que nunca imaginaram ser possíveis".
Sobre o Canal do Panamá, disse que vai criar um novo escritório de construção naval na Casa Branca. "Para impulsionar a nossa base industrial de defesa, vamos também ressuscitar a indústria de construção naval americana, incluindo a construção de navios comerciais e militares", afirmou, acrescentando: "O meu governo vai recuperar o Canal do Panamá e já começámos a fazê-lo. "Ainda hoje, uma grande empresa americana anunciou que vai comprar os dois portos em redor do Canal do Panamá".
Antes de terminar o seu discurso, Trump disse que vai liderar a nação para forjar “a civilização mais livre, mais avançada, mais dinâmica e mais dominante que alguma vez existiu à face da Terra” e que a América irá “conquistar as vastas fronteiras da ciência”, “liderar a humanidade para o Espaço” e “colocar a bandeira americana no planeta Marte e além”. “Meus compatriotas americanos, preparem-se para um futuro incrível, porque a era dourada da América ainda agora começou. Será algo como nada que já se tenha visto antes”, rematou.