Enquanto a maioria da população foge de Kiev, há quem faça o trajeto contrário: são pessoas que querem ajudar nos combates, que tentam retirar familiares da zona de risco e que vão com a missão de reportar o que veem.
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"Para quem chega à estação de Kiev, não parece haver guerra. O ambiente é normal. Há calma, tranquilidade". O relato é de Pedro Cruz, enviado especial da TSF à Ucrânia em serviço especial para o JN, que chegou esta quarta-feira à capital do país, ao fim de quase onze horas de viagem com partida em Lviv e sob temperaturas negativas.
O comboio em que chegou à "linda, gigantesca e praticamente deserta" estação de Kiev trazia cerca de uma centena de pessoas, entre outros jornalistas, combatentes que querem alistar-se no exército do país e pessoas que vão tentar "resgatar" familiares da cidade, de onde tantos querem sair e onde já só estão praticamente homens e idosos. "A estação está a funcionar perfeitamente. É uma confluência enorme de linhas de todo o país que chegam aqui. É um sem-fim de linhas de comboio, muito perto do centro da cidade, a cerca de 15/20 minutos da zona mais central de Kiev", relatou o jornalista, dando conta de uma viagem "absolutamente tranquila", sem incidentes, ataques ou qualquer tipo de constrangimento.
Enquanto capital do país, Kiev é, além de um ponto estratégico, um símbolo do poder, da governação e da soberania ucranianas. Daí que os esforços militares estejam a ser mobilizados para a defesa da cidade, sob ataque de Moscovo. É o caso de um ex-combatente norte-americano, com raízes em Los Angeles, que quis ir para a Ucrânia combater as forças russas. E é também o caso de um polícia de Lviv que viu maior utilidade em combater na capital do que continuar na cidade fronteiriça. "Ambos querem ir para a linha da frente", conta Pedro Cruz, recém-chegado a Kiev.
"É uma cidade totalmente deserta. Parece uma cidade-fantasma. Há pouquíssimos carros na rua. Há muito poucas pessoas a circular. Não há lojas abertas. Não há praticamente mulheres nas ruas. Passámos por dois ou três sítios que vendem café, cigarros e água. O que mais me impressionou até agora foi o profundo silêncio aqui em Kiev", relata o jornalista.