Tal como na Rússia, na China também existem vozes de oposição ao Governo. Em Moscovo, Alexei Navalny destacou-se como dissidente do regime de Vladimir Putin, mas em Pequim também são muitos os críticos. No entanto, as figuras que arriscaram confrontar as políticas de Xi Jinping desapareceram do radar mediático.
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Apesar de na China não haver uma figura semelhante ao opositor russo Alexei Navalny, uma vez que na nação asiática apenas há espaço para o Partido Comunista Chinês (PCC), há várias pessoas que se destacam por levantarem a voz contra o regime de Xi Jinping. Embora não estejam associados a uma força política em concreto, estes indivíduos tiveram a coragem de criticar as políticas do Governo, acabando por ser silenciados. Alguns foram condenados a longas penas de prisão, outros simplesmente desaparecerem sem deixar rasto.
No caso de Navalny, e apesar de o político estar detido numa prisão remota do Ártico, havia comunicação com o mundo exterior através de vídeos partilhados nas redes sociais. No entanto, na China, isto não seria possível. Os nomes da maioria dos presos políticos chineses são censurados na Internet. Uma vez detidos, nunca mais são ouvidos. Ninguém pode visitá-los, exceto os parentes diretos e os advogados, embora nem isso lhes seja garantido. Também não podem ter qualquer ligação com o mundo cá fora e são deixados a esmorecer atrás das grades, mesmo que estejam a lutar contra graves problemas de saúde.
Foi o que aconteceu com Liu Xiaobo. Em 2017, o Prémio Nobel da Paz morreu de cancro no fígado em estágio avançado quando estava sob custódia do Governo, que o impediu de ser libertado e procurar ajuda médica fora do país. Liu passou mais de oito na prisão, depois de ter sido condenado por subversão pelo seu trabalho como ativista pelos direitos humanos e por apelar por reformas na China.
Ren Zhiqiang também se destaca como dissidente de Pequim, sendo apelidado por muitos como o "Navalny da China". O milionário do setor imobiliário, que contava com mais de 35 milhões de seguidores nas redes sociais antes destas serem desativadas, começou a ser investigado por violação da disciplina depois de ter chamado "palhaço" ao presidente do país pela forma como respondeu à pandemia de covid-19. Em julho de 2020, acabou por ser condenado a 18 anos de prisão por criticar publicamente Xi Jinping, pouco tempo após ter sido expulso do PCC.
O ex-presidente do Huayuan Group, uma das maiores construtoras do país, foi acusado de corrupção, suborno, desvio de fundos públicos e abuso de poder. O tribunal comunicou que o milionário confessou todos os crimes e não iria recorrer da decisão. Passaram quase quatro anos e nada se sabe sobre o paradeiro de Ren.
Pouco antes de ir para a prisão, o antigo empresário teve a suspeita de que estaria com cancro da próstata, havendo relatos de que a sua situação clínica piorou quando foi parar atrás das grades. Uma jornalista chinesa do jornal norte-americano "The New York Times", que acompanhou de perto a condenação do milionário, não conseguiu obter mais informações sobre o estado de saúde de Ren e explicou que a família não quer prestar qualquer depoimento por ter receio de uma retaliação.
Quem também desapareceu sem deixar rasto foi Gao Zhisheng. O advogado de direitos humanos esteve detido vários anos, chegando a ser torturado, e foi levado da própria casa, na cidade de Yulin, no noroeste da China, em agosto de 2017. Há quase sete anos que os seus parentes mais próximos não têm qualquer notícia sobre o ativista, não sabendo se está vivo ou morto. No dia dos namorados deste ano, a 14 de fevereiro, a mulher de Gao deixou-lhe uma carta aberta, publicada nos canais da Amnistia Internacional, na qual reflete a esperança de um dia ainda o voltar a ver. "As crianças e eu resistiremos bravamente até ao dia em que voltares. Estaremos à tua espera e vamos amar-te para sempre", pode ler-se.
Mas Liu, Ren e Gao são apenas três dos milhares de rostos que pagaram uma fatura elevada por se oporem ao regime chinês. Desde 2000, a organização não governamental Duihua registou 48 699 presos políticos na China, sendo que 7371 estão atualmente sob custódia.
Seja na China ou na Rússia, todos os ativistas têm em comum o facto de lutarem para transformar os países onde vivem em lugares mais democráticos e com uma sociedade mais livre. A diferença é que nenhum deles esteve ainda perto de ter o reconhecimento público que Navalny alcançou a nível mundial.