Apesar da chuva forte que cai poucos minutos antes das 20.00 horas, hora a que estava marcada a assembleia do círculo Podemos do bairro madrileno de Malasaña, o grupo consegue concentrar cerca de 30 pessoas em plena praça 2 de Mayo para debater as questões do dia.
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Com as eleições municipais e autonómicas já em perspetiva (terão lugar em Maio do próximo ano) um dos temas quentes passa por decidir como criar mecanismos para controlar os vereadores e outros cargos públicos que o Podemos possa eleger. A proposta, feita por um dos participantes, para que estes tenham que prestar contas perante os círculos a cada seis meses, vai ganhando adeptos na assembleia. Uma vez aceite por um círculo, a resolução poderá então ser votada a nível estatal através de ferramentas eletrónicas como o Reddit.
"A maioria das pessoas que participam não são políticos, mas querem ter uma palavra a dizer no debate político", explica ao JN Mónica Mota, coordenadora dos círculos do Podemos. Se antes das eleições europeias já havia numerosos grupos, depois da surpresa registada em Maio deu-se uma autêntica explosão: hoje são mais de 1000 os círculos em toda a Espanha. Em Madrid, contando com os municípios, são mais de 80. Cada um conta com a participação assídua de uma média de 50 pessoas que debatem tanto sobre a organização da plataforma Podemos a nível global como sobre formas de intervir dentro de cada bairro. Internamente, dividem-se em várias subcomissões: comunicação, redes sociais, economia e finanças, conta Mónica Mota.
Licenciada em Ciência Política, a atual situação de desemprego leva-a a dedicar a maior parte do tempo que tem disponível ao Podemos, rumando quase diariamente à sede do movimento: escassos 30 metros quadrados num rés do chão em pleno bairro de Lavapiés, a zona mais multicultural de Madrid.
Na pequena sede, onde é visível um armário em estrutura de metal com merchandising do Podemos, Mónica vai interrompendo a conversa para atender as pessoas que entram na sede. Pedem informações. E uma delas até dá conselhos: "se querem governar, têm de afastar-se da Venezuela e não se podem coligar com a Esquerda Unida".
Uma das acusações feitas ao Podemos é precisamente este ser financiado pelo governo venezuelano, através do pagamento de serviços de consultoria a uma Fundação de estudos políticos, crítica que Pablo Iglesias nega, garantindo que o movimento é financiado por fundos próprios.
Mónica, no entanto, salienta a importância da cidadania para estar tão envolvida no projeto: "desde 1978 que nos educaram a votar e não fazer mais nada. Os partidos esvaziaram os movimentos sociais e burocratizaram a política para a afastar das pessoas". E não tem dúvidas: "o êxito do Podemos tem a ver com a reconhecimento de uma nova predisposição na cidadania: querem participar".
"Se o Podemos chegar às instituições, como apontam todas as sondagens, virá daí uma janela de ar fresco, de renovação", garante Diego Pacheco, assíduo no círculo de Malasaña e membro da comissão organizadora da Assembleia Cidadã que pretende dotar o movimento popular de uma estrutura política que possa disputar as eleições aos dois partidos maioritários. "Há muita gente preparada na cidadania para assumir funções nas instituições", prossegue o informático de 28 anos, para quem "preparação não é ter militado 20 anos num partido político".
Para além dos moldes organizativos, o movimento de Pablo Iglesias irá definir na Assembleia Cidadã os seus princípios políticos e éticos, num processo democrático, aberto à participação dos mais de 130.000 simpatizantes que se inscreveram na plataforma online da organização. Durante a próxima semana terão lugar as votações via electrónica das várias resoluções em cima da mesa, num procedimento que culminará em meados de novembro com a eleição dos órgãos do partido.