Espanha e EUA identificam focos consideráveis com origem na diversão noturna, mas estudo israelita desvaloriza o papel dos bares na transmissão de covid-19.
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Eram 400 numa discoteca de Córdoba, há dias. Anteontem, 73 deles tinham teste positivo ao novo coronavírus. A relação é clara e fez daquela noite de diversão o maior foco ativo da Andaluzia e um dos maiores de Espanha. Valência, Murcia, Gipuzkoa, Saragoça, os casos festivos multiplicaram-se. Há semanas, Portugal registava um fenómeno semelhante, depois de uma festa em Odiáxere, no Algarve, foco entretanto contido. Dias antes, era da Coreia do Sul que a notícia chegava: um foco de covid-19 depois de um super-contagiador ter passado uma noite bem passada numa rua de bares de Seul. E nos EUA, surgiam 187 casos ligados a um pub do Michigan.
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A constatação parece apenas contrariada por um estudo epidemiológico levado a cabo em Israel, onde a maioria dos novos contágios têm origem em ambiente escolar (29%), eventos (casamentos, etc., 17%) e templos (14,5%), e não nos bares (1,5%). Talvez por algum tipo de regra imposta, a notícia do "Haaretz" limita-se a reproduzir as conclusões do inquérito a 727 doentes que confirmaram o contágio com covid na semana passada e sabiam onde foram infetados. Piscinas e praias (0,5%) e encontros sociais (0,9%) são pouco expressivos nas contas, tal como o é o transporte público (2%).
Falar alto é fator de risco
"O ócio noturno é o que mais nos preocupa agora", admitiu já o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias espanhol, Fernando ´Simón, que faz questão de avisar os jovens de que não são invencíveis (apesar de ter sido visto sem máscara em Portugal...). Porque a noite junta pessoas vindas de múltiplos sítios, num manancial de transmissões cruzadas difícil de gerir.
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Ao contrário de Portugal, Espanha abriu os espaços de diversão noturna. Está, paulatinamente, a encerrá-los novamente. Porque, como explica ao "El País" Joan Ramón Villalbí, porta-voz da Sociedade Espanhola de Saúde Pública, "os espaços noturnos são mal ventilados, as pessoas não usam máscara porque estão a beber e o volume da música fá-las falar alto, algo que está documentado como fator de risco".
No Harper"s Restaurant and Brew Pub de East Lansing, no Michigan, "as mesas estavam a dois metros, mas ninguém ficava sentado. O DJ punha música pelo que as pessoas gritavam, a pista de dança começou a ficar cheia", explica ao "The New York Times" Linda Vail, delegada de saúde do condado de Ingham.
Ao fim e ao cabo, trata-se de reuniões de pessoas como as que lançaram a epidemia - uma igreja sulcoreana, um estádio italiano, um noivado no Brasil, comícios em Espanha - e que se fazem com regras que a noite não comporta. "Se pudessem parar estes eventos, poderiam parar a pandemia", acredita Donald Milton, professor de saúde ambiental na Universidade do Maryland, citado no mesmo jornal.
Os novos focos que saíram dos hotéis australianos
Uma investigação ao novo surto de covid-19 em Melbourne, Austrália, vai tentar apurar se houve violações das regras de segurança nos hotéis designados para a quarentena obrigatória de viajantes vindos do estrangeiro.
O aumento dos infetados levou a um segundo confinamento na cidade de cinco milhões de habitantes, capital do estado de Victoria. Suspeita-se de falhas por parte dos seguranças, que terão deixado os viajantes sair dos quartos ou mesmo ter relações sexuais com outras pessoas em quarentena. Com 25 milhões de habitantes, a Austrália soma 11 mil contágios e 122 mortes.
Casos
França
As autoridades francesas alertaram para o aumento "moderado" da circulação do vírus, com mais de 500 focos desde o desconfinamento.
Catalunha
A multiplicação de focos na Catalunha (120 ativos) levou já a França a ponderar fechar a fronteira. As discotecas encerraram na área metropolitana de Barcelona e os cafés têm capacidade limitada a 50%.
Hong Kong
Com um recorde de 108 novos casos num dia, o território de sete milhões de pessoas vê o uso de máscara passar a obrigatório e o teletrabalho como regra para funções não essenciais.