Milhares assistiram esta quarta-feira ao cortejo fúnebre de Isabel II. Corpo será velado até segunda-feira, dia do funeral, na Abadia de Westminster.
Corpo do artigo
Lilly não está no mundo há sequer um ano e, embora não o saiba, já testemunha a História a acontecer à frente dos seus olhos azuis e muito abertos. Os pais hão de lho dizer um dia, mas por agora encontram formas de lhe acalmar o choro tímido, abanando com meiguice o carrinho onde está deitada e sussurrando-lhe o abecedário numa canção de embalar que ainda não embala. Jade e Josh chegaram à zona frontal do Palácio de Buckingham às 10 horas e, passado quatro, estão prestes a assistir com vista privilegiada ao início do cortejo fúnebre de Isabel II, que seguirá em direção ao Palácio de Westminster, coração do Governo britânico, onde o corpo ficará em velório público até ao funeral (segunda-feira, na Abadia). "Quisemos vir aqui hoje prestar tributo à rainha e à família real, agradecer-lhe por tudo o que fez pelo país. E trouxemos a nossa filha, porque queremos que esteja presente neste marco tão importante", conta a londrina.
Atrás, com a bandeira do Reino Unido às costas, Elizabeth aguarda pelo momento solene junto a um degrau de plástico que trouxe para não ter cabeças à frente na hora da procissão. Veio com o marido da cidade de Gloucester (a duas horas de carro da capital), onde vivem a 15 minutos daquela que até agora era a casa de família do rei Carlos. "Viemos porque este é um dia muito especial e achamos que deveríamos agradecer o que a rainha fez pelo país. Ela esteve connosco, nós temos de estar com ela", diz sorrindo, enquanto Paul saca um tupperware da mochila. Hoje, o almoço é sandes de frango com vista para o palácio e para os milhares que se dividem entre os dois lados da avenida que dá para o portão real, sob a orientação dos polícias e seguranças envolvidos "na maior operação de sempre".
Alto! Ouvem-se os trompetes e eis que se cumpre o mito da pontualidade britânica: às 14.22 horas, como protocolado, começa o cortejo fúnebre, acompanhado por parada militar e na presença do rei, seus irmãos e dos príncipes William e Harry. O burburinho substitui-se pelo silêncio. Quem descansa no chão levanta-se. Um rapaz escala um candeeiro. Elizabeth sobe para o degrau. Lilly já não chora. E, como se o cortejo fúnebre não fosse um cortejo fúnebre, milhares de câmaras de telemóveis em punho guardam o momento para sempre. Lá vai a "rainha eterna", assim lhe chamam. Com aplausos na hora da despedida.
Portuguesas foram dizer adeus à rainha
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Entre a multidão que se despede de Isabel II, o JN encontra duas portuguesas que guardam boas memórias da mais longeva monarca do Reino Unido e que, por isso, fazem questão de prestar tributo.
"A morte foi um choque, porque a rainha foi sempre uma grande mulher, uma grande monarca que reinou durante 70 anos. Sempre presente, sempre a cumprir os seus deveres, a tempo inteiro. Tocou-me bastante", partilha Paula, 53 anos, de Lisboa, que vive em Inglaterra há seis com os filhos e que está desde manhã colada às grades, na primeira fila de uma coluna que se estende ao longo de vários quilómetros até Westminster.
Isabel, 65 anos, também de Lisboa, está de férias no país há nove dias. Estava com amigos em Liverpool quando, na quinta-feira, soube da morte da rainha: "Foi com pesar que recebemos a notícia. Era um símbolo da estabilidade, do respeito e, no fundo, da forma correta de estar na sociedade, pretendendo sempre a união e a paz." Cumprindo o roteiro, chegou a solo londrino, onde optou por, em vez de ir a museus ver a História que passou, vir Buckingham ver a História a acontecer.