Há 14 anos exatos, na edição de 2 de junho de 2009, o "Jornal de Notícias" dava destaque a uma da maiores - e à época inexplicável - tragédias da aeronáutica civil: o desaparecimento de um avião da Air France, que na véspera viajava com 228 pessoas a bordo entre o Rio de Janeiro, no Brasil, e a capital francesa, Paris.
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Entre a ilha de Fernando de Noronha e o arquipélago de Cabo Verde, em pleno Oceano Atlântico, o Airbus A330-200, que assegurava o voo AF 447 da Air France, deixou de dar sinais e de ser localizado.
"Perdidos num deserto de água", sintetizava o título da peça principal do JN. A aeronave, soube-se depois, despenhara-se. Nenhum dos 216 passageiros e 12 tripulantes de 32 nacionalidades sobreviveu.
Na primeira página, a manchete tranquilizava temores lusos: "Tragédia no Atlântico sem vítimas portuguesas". Por sorte. Um cidadão português não chegara a embarcar, não se sabe as razões.
Já um analista judiciário brasileiro escapou, por ter descoberto, duas horas antes do embarque, que o passaporte estava caducado. Uma assessora de comunicação brasileira que deveria regressar ao trabalho em Paris, desistiu em cima da hora para passar o domingo em Porto Alegre.
Desses acasos da sorte, sabia-se. Como foi possível relatar, em peças secundárias, os dramas da busca angustiosa de notícias, por familiares e amigos, nos aeroportos de António Carlos Jobim, no Rio, e de Roissy-Charles de Gaulle, em Paris; ou partilhar mensagens de última hora voando dos telemóveis dos embarcados - "Amo-te"; "Estou com medo"...
Voltemos à peça principal, que explicou, com o testemunho de um comandante português veterano na rota, que na zona de desaparecimento do aparelho não havia localização por satélite e que o avião só voltaria a estar visível por radar a partir de Cabo Verde, pelo que deveria fazer contactos rádio a cada hora. Não aconteceu. Provavelmente teria sido atingido por uma tempestade.
Ao cabo de 13 anos de investigações e três meses de julgamento, no dia 17 de abril último, concluiu-se que o avião entrou em queda livre . Os motores funcionavam, mas as asas não "captavam" o ar suficiente para o manter no ar. A tripulação não lidou corretamente com a perda de velocidade, depois de as sondas terem sido bloqueadas pelo gelo da tempestade.
Na sentença do Tribunal de Paris, a empresa construtora do avião, a Airbus, e a companhia aérea, a Air France, foram absolvidas, por não ter sido possível provar as suas responsabilidades.