Abusos, agressões e comida estragada: Venezuela denuncia "torturas" em prisão de El Salvador
A Venezuela denunciou, esta segunda-feira, "torturas" aos migrantes do país enviados pelos Estados Unidos à mega prisão para membros de gangues de El Salvador.
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Esses 252 venezuelanos foram repatriados na última sexta-feira como parte de uma troca de prisioneiros entre Washington e Caracas, que, por sua vez, libertou 10 cidadãos e residentes americanos detidos na Venezuela.
O procurador-geral, Tarek William Saab, anunciou uma investigação contra o presidente Nayib Bukele e outros funcionários do governo, aos quais acusou de cometer crimes contra a humanidade.
Saab apresentou vídeos de migrantes que mostraram hematomas por todo o corpo e marcas de balas de borracha. Um tinha a boca ferida, outro uma cicatriz no ombro.
Andry Hernández Romero, um estilista de 32 anos que acabou no Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), disse que foi abusado sexualmente. "Estivemos lá a passar por tortura, a sofrer agressões físicas, agressões psicológicas", afirmou Hernández. "Fui abusado sexualmente pelas próprias autoridades salvadorenhas. Achávamos que nunca mais íamos ver os nossos familiares".
Saab também relatou o "isolamento em celas desumanas sem contacto com a luz solar, sem ventilação", "ataques sistemáticos com balas de borracha" e o fornecimento de comida estragada e água imprópria para consumo. Nunca tiveram acesso a advogados ou contacto com familiares.
Os venezuelanos repatriados foram acusados de pertencer ao Tren de Aragua, uma quadrilha criminosa que o presidente Donald Trump declarou como "organização terrorista". O presidente republicano invocou uma lei de inimigos estrangeiros de 1798 para expulsar os venezuelanos rapidamente em março.
A libertação foi resultado de uma negociação com representantes dos Estados Unidos. O acordo foi finalizado apenas horas antes da troca, segundo o governo venezuelano. "As negociações foram exclusivamente com os Estados Unidos da América, com o governo dos Estados Unidos da América", assegurou no domingo o negociador e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, ao canal estatal "Telesur".
A troca incluiu a libertação de outros 80 venezuelanos detidos na Venezuela, considerados "presos políticos" por detratores do governo de Nicolás Maduro. Rodríguez, no entanto, garantiu que essa medida coincidiu com um processo de negociação interno paralelo.