Dezenas de estradas bloqueadas e acessos a reservatórios de combustíveis encerrados por manifestantes, transportes públicos "fortemente perturbados" e serviços públicos ocupados estão a marcar, desde a manhã desta segunda-feira, em França, os protestos contra a aprovação da alteração da idade da reforma para os 64 anos, que deverá consumar-se se as duas moções de censura ao Governo forem chumbadas na Assembleia Nacional.
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A sessão está agendada para as 16 horas em Paris (15 em Portugal continental) e vai debater e votar uma moção apresentada pela formação centrista Liberdades, Independentes, Ultramar e Territórios (LIOT, no acrónimo em Francês), apoiada pelas bancadas de esquerda, e outra pelo partido de extrema-direita União Nacional (Ex-Frente Nacional, de Marinne Le Pen).
Para que qualquer uma das moções passe é necessária uma maioria absoluta de 287 votos, que os proponentes não garantem, face à força dos partidos que suportam o presidente francês, Emmanuel Macron, o Renascença (ex-A República em Marcha) e o Modem, que garantiram o apoio do partido Os Republicanos (LR). Alguns republicanos deverão votar a favor, mas seria necessário que três dezenas quebrassem o compromisso assumido pelo seu líder, Eric Ciotti, que já ameaçou expulsar das fileiras do LR quem o fizer.
As greves, manifestações e o bloqueio de infraestruturas contra a alteração da idade da reforma continuam no terreno, visando pressionar a votação na câmara baixa do Parlamento prosseguem em todo o país, prologando as ações de protesto das últimas semanas e intensificadas desde sexta-feira.
Há manifestações em nós rodoviários e vias, bloqueando ou retardando a circulação em inúmeras cidades, como Rennes, onde foi ateado fogo a pilhas de paletes, tendo sido boicotado o acesso ao depósito petrolífero de Vern-sur-Seich. Em Caen, uma manifestação fechou parte da periferia.
Parques industriais afetados
Segundo o diário "Le Monde", no sector do Lorient, as autoridades registam manifestantes e perturbações na estrada N165, que liga Brest à Nantes. No Norte, operações de "filtragem" da circulação em rotundas ocorrem em Salomé e Epinoy.
Na região de Pas-deCalais, perto de Boulogne-sur-Mer, manifestantes bloqueiam os três acessos ao parque industrial, tendo incendiado paletes e impedido a entrada e saída de veículos da zona, na qual se localizam, entre outras atividades, uma base de autocarros escolares e um aparcamento de camiões de recolha de lixos.
Em Marck, na mesma região, um nó rodoviário de acesso a uma zona industrial foi bloqueado por uma concentração. Em Bordéus, uma operação de marcha-lenta foi desencadeada no centro da cidade por elementos do sindicato da Energia, da CGT.
A circulação de autocarros está bloqueada em Rennes nalgumas linhas e em Metz manifestantes bloquearam a central dos transportes locais, gerando "perturbações muito fortes", segundo a administração da rede.
O aeroporto de Tarbes-Lourdes foi ocupada durante duas horas em início da manhã, por três centenas de manifestantes e a iluminação foi cortada momentaneamente.
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A Direção-Geral da Aviação Civil mantém o pedido de redução de voos em 30 % no aeroporto de Paris-Orly e em 20 % no de Marselha-Provença, devido à greve dos controladores.
Na Nova Aquitânia, elementos do sindicato da Energia da CGT entraram no aeroporto de Pau-Pirinéus "para sensibilizar os eleitos" antes da votação das moções de censura e cortaram o abastecimento durante 20 minutos, "sem nenhum impacto" sobre o funcionamento, devido à entrada em serviço dos geradores de emergência.
Ferroviários no 14.º dia de greve
Nos transportes ferroviários, a greve entrou no seu 14.º dia, com perturbações na circulação em toda a rede.
Em Marselha, várias dezenas de profissionais de educação e de membros de vários sindicatos e partidos de esquerda ocuparam a direção dos serviços regionais.
Piquetes de greve mantêm-se na central de incineração de resíduos urbanos de Ivry-sur-Seina (Val-de-Marne), enquanto no sector da refinação de petróleo, fortemente afetada pelas greves, o Governo ameaça que "não hesitará" em recorrer à requisição, apesar de garantir que adotou medidas de reconstituição dos "stocks" estratégicos de combustíveis.
Em Paris, a prefeitura de Polícia determinou o encerramento de onze gares de comboios da Rede de Expressos Regionais (RER) e do metro nas zonas dos Campos Elísios e da Assembleia Nacional, devido à previsão de uma manifestação intersindical.