António Guterres tomou, esta segunda-feira, posse como secretário-geral da ONU.
Corpo do artigo
O novo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, identificou como prioridade do seu mandato a prevenção de conflitos e defendeu a necessidade de mudanças na organização, após ter prestado juramento perante a assembleia-geral da ONU.
5547827
Prometendo a reforma profunda no sistema das Nações Unidas, apelou aos líderes mundiais: "É altura de os líderes ouvirem".
Guterres declarou-se preparado para se "envolver pessoalmente" na resolução de conflitos e sublinhou a necessidade de apostar na prevenção de conflitos como "a melhor forma de salvar vidas e de reduzir o sofrimento humano".
No seu discurso inaugural de 15 minutos, em que falou em inglês, francês e espanhol, o antigo primeiro-ministro português insistiu na ideia de um "contínuo de paz, da prevenção e resolução de conflitos para a manutenção de paz, construção de paz e desenvolvimento".
Sobre a reforma da organização que vai liderar nos próximos cinco anos, Guterres identificou "três prioridades estratégicas": o trabalho pela paz, o apoio ao desenvolvimento sustentável e a agilização da gestão interna da organização. "As Nações Unidas têm de estar preparadas para mudar (...). Não é útil para ninguém que demore nove meses a destacar um quadro para o terreno", defendeu.
O novo secretário-geral considerou também que, no caso de abusos sexuais na República Centro Africana, "o sistema das Nações Unidas não fez o suficiente para prevenir e responder aos crimes de violência sexual e exploração cometidos sob a bandeira da ONU contra aqueles que era suposto proteger", prometendo trabalhar de perto com os Estados-membros para que a "política de tolerância zero" seja "uma realidade".
Um elo que falta na estratégia da ONU é o trabalho com os jovens
Por outro lado, Guterres considerou que "um elo que falta na estratégia" da ONU "é o trabalho com os jovens", sustentando que as Nações Unidas devem "capacitar os jovens e aumentar a sua participação na sociedade e o seu acesso a educação, formação e empregos".
O novo responsável da ONU sustentou que o "medo está a conduzir" decisões em todo o mundo e defendeu a necessidade de "entender as necessidades" das pessoas, "sem perder de vista os valores universais".
Sobre o mundo atual, Guterres disse que a história "voltou com vingança", comentando: "Os conflitos tornaram-se mais complexos e interligados do que antes. Produziram horríveis violações da lei humanitária internacional e abusos dos direitos humanos. As pessoas foram forçadas a deixar as suas casas numa escala que não era vista há décadas. E uma nova ameaça emergiu, o terrorismo global", disse.
As pessoas foram forçadas a deixar as suas casas numa escala que não era vista há décadas
O ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados apontou ainda que "a globalização e o progresso tecnológico também contribuíram para o crescimento das desigualdades" e "muitas pessoas foram deixadas para trás, mesmo nos países desenvolvidos".
"Tudo isto aprofundou a divisão entre pessoas e a classe política. Em alguns países, temos visto crescer instabilidade social e mesmo violência e conflito", disse.António Guterres apontou como um "paradoxo de hoje" que, apesar de maior conectividade, as sociedades estejam "cada vez mais fragmentadas".
"Queremos que o mundo que as nossas crianças vão herdar seja definido pelos valores consagrados na Carta das Nações Unidas: paz, justiça, respeito, direitos humanos, tolerância e solidariedade. Todas as grandes religiões os abraçam e devemos lutar para os refletir nas nossas vidas todos os dias", disse.
A missão das Nações Unidas é ir além "do medo do outro" e promover a confiança "nos valores e nas instituições que servem para proteger" as pessoas. "A minha confiança nas Nações Unidas será dirigida para inspirar essas confianças, enquanto faço o meu melhor para servir a nossa humanidade comum", concluiu.
Tive sempre muita sorte na vida
"Tive sempre muita sorte na vida, em muitas coisas que me aconteceram, em muitas oportunidades da vida, primeiro na Revolução dos Cravos, depois a hipótese de servir no ACNUR as pessoas mais vulneráveis. E também tive muita sorte aqui, quando em vez do processo tradicional de seleção se optou por um processo aberto e isso acabou por me beneficiar", considerou.
Em declarações à comunicação social portugueses poucos minutos depois da cerimónia de juramento na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, o antigo primeiro-ministro português disse que o culminar deste processo o faz sentir "uma enorme responsabilidade".
"É uma confiança enorme que os países estão a pôr em mim em situações que são particularmente difíceis", disse.
A cerimónia aconteceu na sede da organização, em Nova Iorque, na sala da assembleia-geral, perante representantes dos 193 estados-membros, e foi antecedida por uma homenagem ao secretário-geral cessante, Ban Ki-moon, que fez o seu último discurso como secretário-geral perante a Assembleia-Geral.
Antes da sua intervenção, Guterres prestou juramento sobre a Carta das Nações Unidas.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, participaram na cerimónia.
Ao final do dia, por volta das 18 horas locais (23 horas em Portugal continental), o presidente da República oferece uma receção para cerca de 800 pessoas, na Sala de Jantar dos Delegados, também na sede da organização.
António Guterres vai entrar em funções em 1 de janeiro de 2017, para um mandato de cinco anos.