Bruxelas tem até ao dia 27 para convencer 3,6 milhões de belgas francófonos e assinar o tratado de livre comércio com o Canadá.
Corpo do artigo
Um pequeno punhado de 3,6 milhões de europeus (em mais de 500 milhões) está a ser o suficiente para pôr a Europa a repetir uma sigla quase indecifrável e a entrar na intrincada linguagem económica dos tratados internacionais. São os habitantes da Valónia, os francófonos da sul da Bélgica, país de onde saem as decisões comunitárias e que acolhe há sete anos as negociações - ainda mais intrincadas do que a linguagem - do CETA. Tal como ele está desenhado, os valões rejeitam-no.
Trata-se do "Comprehensive Economic and Trade Agreement", ou o Acordo Económico e Comercial Global com que a União Europeia e o Canadá querem facilitar o comércio entre si. Com menos barreiras alfandegárias e mais harmonização de procedimentos, para tornar a livre troca mais livre, no fundo. Fala-se, por exemplo, das regras dos mercados públicos, da mobilidade profissional, do ambiente ou da agricultura. E a ideia é reduzir ao mínimo estes "obstáculos", que atualmente implicam 36% das exportações europeias. Ora, os valões entendem que não estão a ser acautelados os seus interesses, mormente no domínio da proteção dos agricultores europeus, ao contrário do que acontece com os canadianos.
"A bola está do lado da Europa", avisou este sábado a ministra do Comércio canadiana, que na sexta-feira não continha as lágrimas à saída da sede do Governo da Valónia, na derradeira tentativa de negociações e prevendo o fracasso. "Fizemos o nosso trabalho, é tempo de a União Europeia acabar o seu", afirma agora Chrystia Freeland, após um encontro com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que insiste em manter-se "otimista" - "Não podemos parar no último quilómetro".
Secas as lágrimas, a negociadora canadiana deixou uma nota de esperança: a assinatura do CETA está marcada para quinta-feira, 27 de outubro, e Chrystia Freeland espera regressar então a Bruxelas com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.
Martin Schulz terá agora um encontro com o chefe do Governo da Valónia, que lamentou a interrupção das negociações e entende que a Comissão Europeia deve liderar a iniciativa. "A democracia leva o seu tempo", explicou Paul Magnette, que dissera esta semana ao diário francês "Le Monde": "Não nos podem dizer que este tratado é perfeito e que podemos escolher entre sim e sim".
Depois de assinado pela Comissão e pelo Canadá, o CETA tem de ser aprovado pelo Parlamento Europeu, o que pode levar dois a três meses, e depois ratificados pelos parlamentos nacionais e regionais.