A ONU denunciou "promessas não cumpridas" no acordo entre a União Europeia e a Turquia sobre migrações que agravaram o sofrimento dos migrantes, especialmente as crianças, apesar de ter reduzido o fluxo de migrantes.
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"Precisamos mesmo de repensar o enquadramento deste acordo", disse Lucio Melandri, especialista em situações de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
No acordo, concluído há um ano, a 18 de março de 2016, a Turquia comprometeu-se a reduzir o fluxo de migrantes que partem para a Grécia a partir da costa turca e a aceitar de volta os que chegarem à UE dessa forma, em troca de ajuda financeira, da liberalização de vistos de turismo para os turcos e da aceleração do processo de adesão à UE.
As crianças migrantes e refugiadas enfrentam "mais riscos e ameaças" de deportação, detenção e exploração que há um ano
Numa altura em que a Turquia ameaça romper o acordo devido ao conflito diplomático das últimas semanas com países europeus, a Unicef considerou útil advertir que o acordo não é um êxito.
"Embora tenha havido uma baixa importante do número total de crianças que se deslocam para a Europa desde março, houve um aumento das ameaças e do sofrimento suportados pelos migrantes e refugiados", afirmou, em comunicado, Afshan Khan, coordenador da crise de migrantes na UNICEF.
As crianças migrantes e refugiadas enfrentam "mais riscos e ameaças" de deportação, detenção e exploração que há um ano, declarou.
Apenas 14412 pessoas foram acolhidas pela Turquia até 15 de março, em vez das 120 mil previstas no acordo com a UE
Numa conferência de imprensa em Genebra, Lucio Melandri referiu que um dos pontos-chave do acordo previa o acolhimento na UE de pelo menos 120 mil migrantes da Grécia e de Itália.
"Estamos perante o que se chama promessas não cumpridas", disse, precisando que apenas 14412 pessoas foram acolhidas até 15 de março, entre as quais apenas algumas dezenas de crianças desacompanhadas.
As crianças separadas dos pais constituem uma parte importante dos migrantes e refugiados que fogem de zonas de conflito para chegar à Europa, mas o seu número é difícil de determinar, admitiu Melandri.
Dados da Unicef indicam nomeadamente que, na Grécia, 78 crianças estão detidas em centros fechados, na Bulgária cada criança intercetada esteve em média 8 a 17 dias detida e, com a nova lei aprovada na Hungria, cada criança com mais de 14 anos passa a ser detida.
O responsável criticou por outro lado as ameaças de membros do governo turco de romper o acordo que correspondem, considerou, a utilizar os candidatos a asilo como "moeda de troca".
"Os refugiados e os migrantes não devem ser manipulados por razões políticas", disse.