Talibãs já controlam a maior parte do país e estão agora às portas da capital Cabul. Ofensiva contínua já dura há dois meses e meio. Países ocidentais fecham e evacuam as embaixadas.
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Numa questão de dias, o Governo afegão perdeu inapelavelmente o controlo da maior parte do país. Os insurgentes talibãs comandam já quase metade das capitais provinciais - a maioria delas caiu nas suas mãos em apenas uma semana. Anteontem, os talibãs conquistaram facilmente Firozkoh, capital da província de Ghor, e Pul-i-Alam, capital da província de Logar, a apenas 50 quilómetros da capital Cabul.
Praticamente todo o norte, oeste e sul do país já estão sob domínio rebelde. Cabul, Mazar-i-Sharif, que é a grande cidade da zona norte, e Jalalabad, no leste, são as três únicas grandes cidades que o Governo do Afeganistão continua a controlar. Mas a ameaça de que possam cair é bastante real.
Em Herat, cidade estratégica junto à fronteira com o Irão, um acontecimento é bastante revelador: Ismail Khan, peso-pesado da região e um dos mais importantes senhores da guerra contra os talibãs, e que era justamente conhecido como "o leão de Herat", rendeu-se aos insurgentes.
O sentimento de descontrolo é palpável e as consequências estão à vista, provocando o encerramento temporário da maioria das embaixadas ocidentais. O Reino Unido e os Estados Unidos, que tiveram forte presença militar no país durante as últimas duas décadas, já lançaram operações de retirada de emergência dos seus cidadãos e pessoal diplomático - os EUA dizem que vão retirar milhares de pessoas por dia (ler ao lado).
A visível deceção dos EUA
"Os talibãs controlam todas as instalações do Governo em Pul-i-Alam. Agora têm 100% de controlo e já não há mais combates", disse ontem à AFP Saeed Sadat uma autoridade do governo local.
Durante o dia, os insurgentes celebraram a queda de Lashkar Gah (sul), capital da província de Helmand, após a captura de Kandahar, a segunda maior cidade do país, localizada 150 quilómetros a leste, e Herat (oeste), terceira metrópole do Afeganistão.
Os talibãs iniciaram a sua ofensiva global em maio, há apenas dois meses e meio, quando o presidente norte-americano Joe Biden, democrata, confirmou que as tropas estrangeiras deixariam o país, 20 anos após o início da sua intervenção para tentar retirar os extremistas do poder. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, os talibãs recusaram-se a entregar Osama bin Laden, líder da Al-Qaeda e estratega do golpe que provocou 2996 mortos, incluindo os 19 terroristas operacionais.A retirada das tropas estrangeiras será concluída até dia 31. Apesar do caos que acontece no Afeganistão, Joe Biden disse não se arrepender da decisão. No entanto, é visível que as autoridades dos EUA não escondem sua deceção. "O Afeganistão está a afundar num enorme e previsível desastre. E tudo isto podia ter sido evitado", criticou Mitch McConnell, líder republicano no Senado dos EUA.
EUA vão retirar "milhares por dia" este fim de semana
A maioria dos três mil soldados dos EUA em missão para retirar 4200 funcionários da embaixada americana em Cabul chegará amanhã e está preparada para transportar milhares de pessoas por dia, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby. "A capacidade não será um problema", disse Kirby sobre as transferências aéreas. Sobre a conquista de vários territórios afegãos pelos talibãs, Kirby argumentou que "atualmente, Cabul não está sob ameaça iminente". No entanto, admitiu que a insurgência talibã está "a tentar isolar Cabul".