Foi uma das governantes mais bem-sucedidas do antigo Egito, mas o legado da rainha Hatshepsut foi sistematicamente apagado pelo seu enteado e sucessor após a sua morte.
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O motivo de o seu reinado ter sido suprimido de forma tão metódica gerou um debate intenso, mas, num estudo publicado na segunda-feira, o académico da Universidade de Toronto Jun Wong argumenta que foi dada ênfase excessiva ao género.
"É uma pergunta bastante romântica: porque é que essa faraó foi atacada após a sua morte?", disse Wong à AFP, ao explicar o seu interesse pela monarca que liderou o antigo Egito durante um período de extraordinária prosperidade.
Os primeiros estudiosos acreditavam que o enteado de Hatshepsut, Tutemés III, lançou uma campanha póstuma de difamação contra ela por vingança e ódio, entre outras coisas, porque queria eliminar qualquer ideia de que uma mulher podia governar com sucesso.
"A maneira como o reinado de Hatshepsut foi interpretado sempre esteve marcada pelo seu género", afirmou Wong, referindo-se à crença de que Tutemés III possivelmente a considerava "uma espécie de madrasta má".
A investigação, baseada noutros estudos recentes e que será publicada na revista académica de arqueologia "Antiquity", argumenta que as motivações de Tutemés III eram muito mais complexas, o que lança mais dúvidas sobre a teoria de uma represália contra uma mulher no trono.
Hatshepsut governou o Egito há aproximadamente 3500 anos, após a morte do marido, Tutemés II. Primeiro, exerceu como regente do enteado, o príncipe herdeiro, mas conseguiu consolidar o poder por direito próprio e tornou-se rainha-faraó. Os especialistas afirmam que a faraó ampliou as rotas comerciais e encomendou construções extraordinárias, entre elas um túmulo incomparável no Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo.
Wong reavaliou uma série de materiais provenientes de estátuas danificadas descobertas durante escavações realizadas entre 1922 e 1928 e concluiu que não há dúvidas de que Tutemés III tentou eliminar as provas dos feitos de Hatshepsut, mas que os seus esforços "talvez tenham sido motivados por uma necessidade ritual, mais do que por uma antipatia declarada". Tutemés III pode ter tentado neutralizar o poder da antecessora por uma prática ritual e não movido por malícia.
O especialista também descobriu que algumas das estátuas que representavam Hatshepsut provavelmente foram danificadas porque gerações posteriores queriam reutilizá-las como material de construção.